Enquanto essa nota é escrita, as janelas batem e se ouve o uivo do vento lá fora. Também já faltou luz, por duas longas horas. Mas voltou.
Se a Yakecan ficar nisso, agradeceremos aos climas, aos tempos, aos deuses, aos destinos. Mas a tempestade subtropical que ecoa o som do céu em tupi-guarani precisa ser ouvida.
Não é só por boniteza que as grandes empresas estão adotando programas para reduzir emissões, reciclar e, principalmente, reaproveitar o lixo. É por precisão. Sim, a coluna se repete, mas enquanto todos não entenderem, será preciso insistir: o que vemos lá fora é a melhor tradução prática da mudança climática: aumento da frequência e da intensidade de tempestades.
A essa altura, nossa memória de sustos já coleciona o "furacão" Catarina de 2004, a microexplosão de 2016, o ciclone-bomba de 2020. Há muitos outros casos, mas não é necessário ir além desses três para compreender o aumento de frequência e de intensidade. Chove, venta e há raios desde que o mundo é mundo? Diz-se que sim, mas não com tamanha violência, nem com tantos estragos.
Esse é o ponto para o qual convergem clima e economia. Se não prestarmos atenção em um, vamos pagar a conta no outro, e vice-versa. A tempestade subtropical vai deixar uma conta: estragos, necessidade de reparos, aulas, reuniões, visitas e eventos suspensos ou cancelados. Elevará os custos de famílias e empresas em um período em que já estão em nível difícil de suportar, para uns e outros.
Mas esse custo vai só aumentar se não ouvirmos Yakecan, o som do céu: é um alerta para o impacto do clima na economia e vice-versa. A economia também impõe um custo ao clima. O que empresas mais informadas já buscam é reduzir as duas contas: atuar com prevenção aos efeitos da mudança climática e agir com rapidez para atenuar seu impacto ambiental, reduzindo emissões, reciclando tudo o que for possível — e pesquisando como vencer o impossível —, reusando o que pode ser reaproveitado.
O climatologista Carlos Nobre, que advertiu que o Guaíba pode virar mar em milhares de anos se a humanidade não corrigir seu rumo, acaba de ser admitido como membro estrangeiro da Royal Society, academia de ciências mais antiga em atividade no mundo — foi criada em 1660. É o único brasileiro aceito, além de Dom Pedro II. Ele ajuda a traduzir o som do céu.