Com os preços do diesel cada vez mais parecidos com os da gasolina no Brasil, os transportadores veem no lucro acima do esperado da Petrobras no primeiro trimestre, de R$ 44,6 bilhões, fonte de recursos para um possível subsídio ao preço do combustível.
Conforme Afrânio Kieling, presidente da Federação das Empresas de Logística e Transporte de Cargas no Rio Grande do Sul (Fetransul), o setor elabora uma proposta baseada no "lucro maravilhoso que a Petrobras tem e passa para o Tesouro".
A coluna ponderou que parte desse lucro já está comprometida com políticas públicas previstas no orçamento da União, mas lembrou que o valor veio tão acima da média que deve haver um "extra" - as projeções indicam que só a União receberia R$ 24,6 bilhões em dividendos. Kieling admitiu que esse adicional deve ser suficiente, uma vez que o resultado superou, com folga, o de muitas petroleiras.
— Onde vamos parar? Estamos perdendo o controle da situação — pondera.
A coluna perguntou, então, se não seria mais importante direcionar esse subsídio a famílias — e caminhoneiros — de menor renda. Kieling ponderou que o objetivo não seria baixar custos das empresas, que enfrentam dificuldades mas têm mecanismos para sobreviver. O fundamental, diz, seria evitar mobilização para uma nova greve dos caminhoneiros e repasses que vão acabar abastecendo a inflação: com 60% das mercadorias transportadas por rodovia no país, a alta do diesel tem efeito disseminador de reajustes.
— Há um movimento político querendo pôr fogo na gasolina, querendo que os motoristas façam greve. É uma situação insuportável e tem gente botando fogo no circo, dizendo 'vamos parar'. Cerca de 75% da frota de caminhões está nas mãos de pequenas empresas, que têm de um a três caminhoneiros, só 25% dos veículos são de grandes transportadoras — afirma o empresário.
A coluna quis saber que "movimento político" seria esse, uma vez que é de conhecimento público de que os líderes dos caminhoneiros são aliados do presidente Jair Bolsonaro. Candidato à reeleição, ele não não teria qualquer interesse em uma paralisação nesse momento depois que ficou claro qual foi o custo da greve que incentivou em 2018.
— A classe é amiga dele (Bolsonaro). Muitos querem uma solução, mas tem gente infiltrada. Estamos tentando uma solução, o presidente da CNT tem feito o trabalho dele, conversando com o governo para buscar entendimento e solução para todos. Não queremos botar fogo no circo, porque quem paga a conta é a sociedade — ponderou Kieling.
A coluna quis saber se há risco real de paralisação. O presidente da Fetransul observou que, em maio de 2018, "existia clima", o que não ocorre desta vez:
— Naquela época, a sociedade estava a favor, dava comida para os motoristas. Depois, todos entendemos o preço altíssimo que pagamos (houve forte alta de preços e queda na atividade econômica). Não podemos ter outra, inclusive porque, agora, a inflação já está insuportável e subiria ainda mais.
Kieling admite que ainda não há com estimativa de quanto o lucro multibilionário da Petrobras no primeiro trimestre excede o previsto em orçamento, mas afirma que serão feitos estudos para definir esse valor e seu potencial para subsidiar o diesel. O objetivo, afirma, seria evitar novas altas do combustível.
Na semana passada, a média de preços no Rio Grande do Sul, conforme levantamento da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) foi de R$ 6,932 para gasolina e R$ 6,659 para o diesel. A diferença está em escassos R$ 0,273.
A política de preços da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação (PPI), adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto de petróleo cru quanto de derivados, como o diesel. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, que tem preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia que funciona como um seguro contra perdas.