Como todos pedimos aos céus, o som da mensagem não foi destruidor. Ao menos, não tão destruidor como chegamos a temer. Foi um alívio. Mas a versão relativamente suave da tempestade subtropical Yakecan (som do céu, em tupi-guarani) também precisa ser ouvida, inclusive porque deixou avanços importantes para a prevenção de perdas e danos com eventos meteorológicos severos.
É uma lição que precisamos aprender: como raras vezes antes da Yakecan, escolas suspenderam aulas, estabelecimentos comerciais anteciparam encerramento de atividades, todos fechamos janelas e recolhemos objetos que pudessem voar com o vento. Essas providências precisam evoluir para um protocolo que inclua medidas ainda mais abrangentes.
Não é porque a Yakecan "bateu no paredão" da Serra Geral e se suavizou que outras não virão. Talvez não repitam a convergência de fatores climáticos que a geraram, mas ainda terão potencial para provocar perdas e danos. Como a coluna aprendeu há muito tempo e não cansa de repetir, o aumento da frequência e da intensidade de tempestades é a tradução mais prática e imediata das mudanças climáticas.
Então, é preciso criar um protocolo. Na terça-feira (18), muitos imaginamos o que poderia ocorrer se o vento passasse, de fato de 100 km/h — o máximo identificado até agora foi 91,4 km/h em São José dos Ausentes, o que já é muito. Quantas placas e outras estruturas e instalações, temporárias ou não, resistiram a tal velocidade?
Esse é um bom começo: um teste de estresse para tempos tempestuosos. Para dar o primeiro passo, não é preciso simular rajadas violentas, o que teria alto custo. Basta aplicar bom senso e engenharia básica para avaliar o que, sob condições adversas, pode virar uma arma contra as cidades. Nos debates globais sobre mudanças climáticas, os investimentos têm dois pilares principais: o primeiro é evitar que a situação siga se agravando, mas não é menos importante atuar para amenizar o que não tem mais remédio.
Outro aprendizado precisa ocorrer nos serviços básicos de água e luz. Uma tempestade severa explicaria interrupção no fornecimento de energia por mais de 13 horas, como ocorre no Rio Grande do Sul. Uma que acabou suavizada, para nossa sorte e gratidão, não justifica. Sim, precisa tempo para adaptação e melhoria. Mas enfrentamos esse problema, para não recuar muito no tempo, há quase duas décadas. É hora de acelerar as soluções.