Além das questões legais e até de sobrevivência da própria empresa, o argumento mais forte usado pela Petrobras para justificar a necessidade de repassar aumentos do petróleo para os preços do combustíveis no Brasil é o risco de desabastecimento.
O risco da falta de combustíveis apareceu de novo nesta sexta-feira (18), na nota em que a Petrobras tenta explicar por que não acata o pedido do presidente Jair Bolsonaro para reduzir os preços, feito antes que o petróleo voltasse a subir.
Na ante-véspera do mega-aumento, a coluna ouviu do representante dos postos de revenda que já havia restrições no fornecimento de diesel. Eram casos específicos, mas as distribuidoras começavam a apontar dificuldade de atender aos pedidos porque os importadores haviam parado de comprar diante dos estilhaços econômicos da guerra e da diferença de preços nacionais. Como teriam de revender por um preço menor, para disputar mercado, avaliavam que poderiam perder dinheiro ao trazer combustível para o Brasil.
Dada essa situação, a coluna foi checar o tamanho da dependência do Brasil de combustíveis importados. Com base em dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), verificou que o maior problema está mesmo no diesel: em 2021, veio do Exterior 33,6% do que foi consumido. Na gasolina, há menor risco: só vem de fora 9,6% do que sai das refinarias brasileiras.
E tem solução?
Em tese, sim: seria aumentar a capacidade de refino no Brasil, para reduzir a dependência. Foi o que levou governos do PT a começar a construção das refinarias Rnest, em Pernambuco, e Comperj, no Rio de Janeiro. O problema é que as obras viraram canteiros de corrupção. O custo, que deveria ser de poucos bilhões, multiplicou-se para casas acima da dezena, e as duas unidades seguem inacabadas.
Depois, um dos argumentos para não apostar no refino foi a tese de que custa mais barato trazer do Exterior. A tese é baseada nos princípios da globalização, segundo os quais cada país produziria o que tem mais eficiência para fazer. A pandemia e a guerra minaram esse conceito. Agora, cada país quer depender menos dos lockdowns na China e dos rompantes militares da Rússia. Mas nesse anos o Brasil ainda não conseguiu aprender a financiar projetos multibilionários e protegê-los da roubalheira. É o custo dessa ineficiência que pesa no nosso bolso.