O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
O reajuste dos combustíveis, como já foi dito pela Coluna, representa algo maior do que um novo aumento. Demarca o território perigoso para consolidar uma inflação em constante elevação, com a qual os brasileiros convivem há seis meses, desde setembro de 2021, quando atingiu os dois dígitos pela primeira vez e por lá permaneceu. Agora, resta acostumar-se com ela.
Pior, na avaliação de alguns economistas, a quinta-feira (10), data em que foi anunciada a alta da gasolina e do diesel nas refinarias, crava no calendário a volta da memória da hiperinflação da década 1980. Um fantasma, como era chamada. É o que afirma o economista da FEA-USP e sócio-diretor na Siegen Consultoria, Fábio Astrauskas, por exemplo, ao desenhar um cenário que “destrói” com a possibilidade de redução da desigualdade e atinge de forma “cruel” a população mais desprotegida. E o que vem pela frente é o disparo de reajustes automáticos em contratos como os de pedágios, aluguel, telefonia, planos de saúde, etc.
Filme idêntico ao assistido há 40 anos não estreia da noite para o dia, lembra o economista da UFRGS, Marcelo Portugal, mas diz: a primeira pontada da “doença crônica” já se manifestou. E o problema não é a guerra, ou outro fator externo, e, sim, um fenômeno generalizado e interno. O diagnóstico, acrescenta, agora, é conhecido por todos, porém a cura e o remédio, além de difíceis e desconhecidos, estão bastante distantes.