O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
Na contramão dos resultados nacionais, o recuo de 0,53% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) na região metropolitana de Porto Alegre reflete o peso da carga tributária como instrumento de controle da inflação. Mais do que isso, a justificativa para o desempenho está na redução da chamada alíquota majorada gaúcha, que, a partir de janeiro, diminuiu a incidência do ICMS — principal imposto estadual — em milhares de produtos no Estado, sobretudo, na gasolina.
Esse movimento é apontado por especialistas como "uma ação pontual do Rio Grande do Sul", que contribuiu para puxar o freio de mão na escalada dos preços nos transportes
— único dos nove grupos acompanhados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a registrar decréscimo de 0,11% no período no país. É o que diz Fábio Astrauskas, economista da FEA-USP e sócio diretor na Siegen Consultoria.
Segundo ele, sem a diminuição de carga no Estado, o resultado nacional — que recuou de 0,73%, em dezembro, para 0,54%, em janeiro — sofreria acréscimo de, no mínimo, 0,10 ponto percentual.
— O corte nas alíquotas gaúchas afetou o índice de maneira ampliada. Sem o movimento registrado no RS, a inflação de janeiro iria, seguramente, atingir os 0,64% ou 0,65% e isso tem de ser percebido com a exata dimensão que tem quando analisamos os dados de janeiro — afirma.
Astrauskas complementa que Porto Alegre e região podem ser consideradas uma espécie de "laboratório", na medida em que o efeito inflacionário positivo da redução de impostos foi imediato:
— Mostra que para combater a inflação, um dos itens que precisa estar sobre a mesa é a redução da carga tributária. O caso de Porto Alegre confirma a tese e funcionou muito bem na única região do país com queda da inflação em janeiro. O problema é abrir esse debate no momento em que o Brasil já está sob forte aperto nas contas públicas.
No país, mesmo com a diminuição do ritmo de altas, a pressão inflacionária indica que continua bastante espalhada, com destaque para alimentação e bebidas (de 0,84% para 1,11%), habitação (de 0,74% para 0,16%) e despesas pessoais (de 0,56% para 0,78%).
Diante do cenário, a tendência, diz o economista, é de queda vagarosa nos próximos meses, o que arrasta a curva de baixa mais acentuada para o segundo semestre do ano.
— Ainda vamos experimentar o acumulado em 12 meses na faixa de 9% ou 10% até a metade de 2022 — lamenta.