A região metropolitana de Porto Alegre (RMPA) registrou recuo na inflação em janeiro. Com queda de 0,53% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a Grande Porto Alegre foi a única área pesquisada no país com retração no indicador. Essa é a queda de preços mais intensa na região desde o início do Plano Real, em 1994, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na manhã desta quarta-feira (9). Mesmo com o recuo, a inflação acumulada em 12 meses segue na casa dos dois dígitos (10,13%).
Dos nove grupos pesquisados no IPCA, dois apresentaram variação negativa em janeiro na Região Metropolitana. O destaque ficou por conta da habitação.
Dentro desse segmento, o recuo nos preços da energia elétrica (-6,81%) é um dos principais motivos para o resultado. A queda na conta de luz ocorre mesmo com a bandeira Escassez Hídrica, que acrescenta R$ 14,20 na tarifa a cada 100 kWh consumidos, em vigor.
O economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre, Oscar Frank, afirma que a deflação registrada na região está atrelada à redução de alíquotas de ICMS no Estado. Desde o primeiro dia do ano, diversos produtos tiveram diminuição do imposto no Rio Grande do Sul com o fim da majoração das alíquotas, que desde 2015 estavam mais altas. Um dos itens em que a redução foi percebida com mais clareza é gasolina comum.
— Nós tivemos tanto a diminuição da alíquota modal quanto das chamadas blue chips, ou seja, de energia, de telecomunicações e também dos combustíveis. Isso acabou sendo bem importante e determinante para explicar essa diferença que tivemos em comparação com a média nacional — aponta o economista-chefe da CDL.
Frank destaca que a desaceleração da inflação no país seria menor em janeiro caso a Região Metropolitana não apresentasse recuo no índice. Em uma simulação levando em conta eventual avanço de 0,54% no indicador regional, mesmo nível do país no mês, o IPCA nacional teria um acréscimo de 0,09 ponto percentual, subindo de 0,54% para 0,63%, conforme cálculo realizado pelo economista.
Segundo grupo com retração no indicador, transportes recuou 2,32%. Passagem aérea (-21,21%), transporte por aplicativo (-12,95%) e gasolina (-6,2%) são os principais itens com protagonismo dentro dessa queda no segmento. O movimento no setor ocorre na esteira do que ocorre no país.
— A queda nas passagens aéreas pode ser explicada pelo componente sazonal — explica o analista da pesquisa André Filipe Almeida. — Em relação aos combustíveis, os reajustes negativos aplicados nas refinarias pela Petrobras, em dezembro, ajudam a entender o recuo nos preços em janeiro — acrescenta.
No país, a inflação desacelerou em janeiro. Após ficar em 0,73% em dezembro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou o primeiro mês do ano em 0,54%. Mesmo com a perda de ritmo, esse é o maior resultado para janeiro desde 2016, quando o país anotou 1,27%.
Próximos meses
O economista-chefe da CDL de Porto Alegre afirma que a inflação, considerando uma janela de 12 meses, seguirá pressionada no primeiro semestre e elevada no país. Desaceleração mais perceptível no índice deverá ocorrer apenas na segunda metade do ano, de acordo com o especialista. No entanto, Frank destaca que esse movimento não significa voltar aos preços de 2021 ou 2020:
— Os preços vão continuar crescendo, porém, com movimento mais lento. E a gente tem drivers, fatores que pesam para ambos os lados. Se, por um lado, tem a questão do juro que segura um pouco o avanço da inflação, por outro lado tem questões que devem ser observadas como muita atenção. Por exemplo, o aumento do preço dos alimentos, que já teve uma sinalização em janeiro, acredito que justamente por esses problemas climáticos.