A inflação no Brasil desacelerou em janeiro. Após ficar em 0,73% em dezembro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou o primeiro mês do ano em 0,54%. Mesmo com a perda de ritmo, esse é o maior resultado para o mês de janeiro desde 2016, quando o país anotou 1,27%. O dado foi divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na manhã desta quarta-feira (9).
Alimentação e bebidas (1,11%) teve o maior impacto no índice do mês (0,23 p.p.). Segundo o analista da pesquisa, André Filipe Almeida, alimentação no domicílio puxou essa alta no segmento:
— Foi a alimentação no domicílio (1,44%) que influenciou essa alta. Mais do que a alimentação fora do domicílio, que desacelerou de 0,98% para 0,25%. Os principais destaques foram as carnes (1,32%) e as frutas (3,40%), que embora tenham desacelerado em relação ao mês anterior, tiveram os maiores impactos nesse grupo, 0,04 p.p e 0,03 p.p, respectivamente.
Os preços do café moído (4,75%) subiram pelo 11º mês consecutivo, acumulando alta de 56,87% nos últimos 12 meses. Cenoura (27,64%), a cebola (12,43%), a batata-inglesa (9,65%) e o tomate (6,21%) também tiveram destaque no grupo. Arroz (-2,66%), frango inteiro (-0,85%) e frango em pedaços (-0,71%) apresentaram os maiores recuos.
Já a desaceleração no índice do mês foi puxada pelo grupo de transportes, que recuou 0,11% após subir 0,58% em dezembro. Esse foi o único dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados com queda em janeiro.
A queda nos preços das passagens aéreas (-18,35%) e dos combustíveis (-1,23%) contribuíram para o desempenho de transportes, segundo o IBGE.
— A queda nas passagens aéreas pode ser explicada pelo componente sazonal — explica André Filipe Almeida. — Em relação aos combustíveis, os reajustes negativos aplicados nas refinarias pela Petrobras, em dezembro, ajudam a entender o recuo nos preços em janeiro — acrescenta o analista.
O economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), afirma que a alta na Selic ainda não tem participação nessa desaceleração, pois o efeito do juro alto nesse processo é lento. Uma inflação que não ocorre por demanda doméstica também diminui o efeito do juro alto neste momento. Braz explica que a perda de ritmo na alta dos preços ocorre diante de fatores sazonais.
— Do outro lado, também tem efeitos sazonais que contribuíram para baixo, que são as quedas nas passagens aéreas, no transporte por aplicativo e uma desaceleração nos preços em restaurantes — pontua Braz.
No acumulado de 12 meses, a inflação no país está em 10,38%. A meta para o IPCA deste ano é de 3,50%, com tolerância de 2% a 5%.
Inflação alta de 2021 que persiste em 2022, o fato de o Brasil ter uma economia indexada, problemas envolvendo o preço do petróleo e o ano eleitoral são impeditivos que afastam ainda mais a possibilidade de se atingir a meta de inflação neste ano, segundo o economista.
— Juros altos num ambiente de incerteza fiscal não contribuem para atrair investidores, dificultando a entrada de recursos, motivo que vem sustentando o real desvalorizado. Além disso, os juros altos não favorecem o aquecimento da atividade econômica, mantendo o desemprego elevado e o PIB muito baixo — pontua.