É tão tradicional quanto comer lentilhas, pular sete ondas e evitar aves na ceia do Ano-Novo, porque "ciscam para trás": trocar de calendário exige otimismo e costuma embutir desejos de prosperidade.
Mas que tipo de esperança tem fundamento econômico para brasileiros e gaúchos em 2022, cercados de desafios? A resposta curta é "otimismo responsável", aquele em que os cidadãos confiam mais em seu próprio poder de transformação do que em cenários ou governos.
O cenário é complexo: previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de magros 0,48% no mais recente Boletim Focus, publicação do Banco Central que traz as estimativas mais frequentes de uma centena de instituições financeiras e consultorias econômicas.
Mas até no mundo das projeções macroeconômicas há espaço para a esperança. Visto o copo meio cheio, a inflação deve cair à metade, forçada pela forte elevação da taxa de juro. Tem a parte meio vazio, vai continuar subindo, mas deve fechar o ano em níveis civilizados, longe dos dois dígitos que marcaram esse espantoso 2021.
Além disso, será um ano eleitoral, com elevadas probabilidades de um pleito polarizado e muitos conflitos no horizonte. Será difícil, mas aqui também cabe certo otimismo: há chance de correção de rumos, com escolhas mais conscientes nos vários níveis de votação. O "certo" é importante porque as escolhas nem sempre são feitas com critérios racionais, ainda mais nestes tempos em que o fígado domina o cérebro.
Na bolsa, que fecha o ano também com perda de dois dígitos, circula nos últimos dias uma expectativa tragicômica: "pior do que está, não fica". Não é exatamente uma perspectiva festiva, mas é otimista. Por mais que tenha sido eleitoreira, a fixação de um benefício mínimo de R$ 400 para o Auxílio Brasil em 2022 deve ao menos ajudar a amenizar a fome e a insegurança alimentar que também marcaram 2021.
No Rio Grande do Sul, há um motivo concreto para otimismo: a volta ao "normal" das alíquotas de ICMS sobre gasolina, energia elétrica e telecomunicações tende a baixar preços no Estado e, assim, reduzir nossa "inveja de Santa Catarina". Mais uma vez, será preciso exercitar a cidadania e cobrar o repasse dessa redução de custos à ponta do consumo. Não será fácil, a coluna adverte: muitas empresas represaram reajustes diante de pesados aumentos de preços em insumos ou matérias-primas.
Um desejo da coluna para 2022: como a esperança é verde, alimente-a: busque uma produção mais responsável, um estilo de vida mais sustentável, dê uma contribuição para preservar o ecossistema que mantém a vida na Terra. Pode ser pequena. Se cada um fizer um pouco, faremos muito juntos.