É bom que Porto Alegre debata o plano de revitalização do Cais Mauá, se possível para melhorá-lo. Para a coluna, as imagens apresentadas até agora mostram muito concreto e pouco verde. Dá tempo de aperfeiçoar.
Se o "estilo concreto" foi tendência ao longo das últimas décadas, já não é. Em um mundo em que investidores são cobrados todos os dias por práticas de governança corporativa, social e ambiental — o famoso ESG —, o panorama cinza que domina o projeto destoa.
Por justiça, tem árvore, sim (veja nas imagens acima). Mas são exemplares aparentemente raros e isolados. É claro que, agora, não há exatamente um oásis na área de armazéns do Cais Mauá. Mas como se trata de um projeto que vai ajudar a reformatar a imagem de Porto Alegre, precisa mudar essa realidade olhando para o futuro. E o futuro exige verde.
Se a ambição do projeto reflete o "sonho grande" — jargão do empreendedorismo que reflete a intenção de não "pensar pequeno", o que significa que não há certeza de que seja viável no curto prazo —, para chegar lá precisa abrir caminho. Buscar investimentos de R$ 1,3 bilhão em até 15 anos pode ser desafiador, mas não é impossível.
Mas é preciso ser muito atrativo. E hoje, para investidores e moradores, verde funciona mais como ímã do que cinza, basta lembrar da recente valorização, no mercado imobiliário, dos chamados "apartamentos garden" (ou seja, com jardim ou algum tipo de área com plantas). Como a proposta envolve unidades residenciais, é ainda mais importante. Para quem puder comprar, será lindo ver o Guaíba das alturas. Será mais com muitas árvores.
Cidades emblemáticas já executaram seus "sonhos grandes". Do mais conhecido Puerto Madero de Buenos Aires à virada total de chave de Bilbau, na Espanha, que trocou esqueletos industriais por uma margem verde e inovadora com a impressionante unidade do Museu Guggenheim, exemplos não faltam. Mas é preciso adicionar a cor que o futuro nos cobra.