A união de dois interesses - a tentativa de mostrar que algo está sendo feito para reduzir a pressão inflacionária e o interesse de botar pressão no Mercosul - fez o governo Bolsonaro anunciar nesta sexta-feira (5) a redução das tarifas de importação de vários produtos.
Dentro de sete dias, até o final de 2022, uma ampla lista de mercadorias (o documento tem 51 páginas) fica, em tese, mais barata para trazer do Exterior - ao menos se o dólar não subir cerca 10% no período - redução média -, o que não pode ser descartado.
Conforme a resolução 269 do Comitê-Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Camex), a redução vai alcançar 87% do universo tributário, sem abranger as exceções já existentes no Mercosul. A justificativa é a "situação de urgência trazida pela pandemia de covid-19 e pela necessidade de poder contar, de forma imediata, com instrumento que possa contribuir para aliviar seus efeitos negativos sobre a vida e a saúde de população brasileira".
O que pode trazer benefícios ao consumidor, porém, pode impactar setores produtivos do Estado, exatamente por tornar a importação mais barata, ou seja, aumentar a concorrência do Exterior. É o caso dos frangos, por exemplo. Há uma forte indústria avícola no Estado, e a tabela reduz a tarifa de 4% para 3,6% para "aves da espécie gallus domesticus". Há vários cortes de carne, inclusive de cordeiro, e até salmão.
Alguns tipos de calçado - para esqui e surfe na neve é um dos casos - e seus componentes tiveram redução na tarifa, em alguns casos de 20% para 18%, outros de 18% para 16,2%, inclusive couros. Também há redução na cobrança da taxa de importação para móveis e vinhos, outros dois produtos tradicionais do Estado.
Conforme Luiz Ribas, gestor da Inteligência de Mercado da Assintecal, a resolução pegou o setor de surpresa. No entanto, a expectativa é de que a redução de 10% não seja tão impactante, porque o custo de importação dos produtos está muito elevado, mas destaca que se trata de uma avaliação preliminar. Antes da pré-pandemia, o frete de um contêiner custava US$ 2 mil, agora está em US$ 15 mil a R$ 18 mil.
Outros segmentos importantes da produção industrial e agrícola gaúcha tiveram alíquota mantida, como automóveis e autopeças, têxteis, lácteos, pêssegos e outros que estão submetidos a regime especial. A coluna consultou a Federação das Indústrias do Estado (Fiergs) sobre a avaliação da medida, mas a resposta é de que a análise só será feita na próxima semana.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que, em um momento de "pressão inflacionária forte na economia brasileira, gostaríamos de dar um choque de oferta, facilitando a entrada de importações para dar uma moderação nos reajustes de preços":
- É um momento ideal para fazer abertura, ainda que tímida, da economia.
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