No ano passado, a negociação das operações da Laureate no Brasil envolveu duas instituições de Ensino Superior no Estado, UniRitter e Fadergs, e uma acirrada disputa de dois grandes grupos de educação privada no Brasil, vencida pela Ânima.
Agora, com a intenção da Ulbra de vender os campi de Canoas, Guaíba, Carazinho, Santa Maria, Cachoeira do Sul, Torres e São Jerônimo, além do Ensino a Distância (EAD), o interesse será o mesmo?
A resposta curta para a pergunta é "não", no sentido de que não será o mesmo, porque se trata de ativos muitos diferentes. A Laureate tinha campi em vários Estados, portanto quem comprasse as operações da empresa americana no Brasil teria outra musculatura nacional.
No caso da Ulbra, o objeto de venda são campi concentrados na Região Metropolitana e no interior do Rio Grande do Sul, com alcance geográfico menor. Mas ainda podem atrair o interesse de grupos que valorizem a entrada no Estado, por representar receita por aluno maior do que a média nacional. Conforme informações de mercado, o curso de Medicina em Canoas é um dos principais atrativos.
É o caso, por exemplo, da Ser Educacional, que chegou a exigir uma cláusula para ficar especificamente com UniRitter e Fadergs, além do Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação (IBMR), mantenedora do Centro Universitário Hermínio da Silveira. No final, acabou não exercendo a opção. A nova oferta, portanto, seria uma nova oportunidade de entrada no Estado, ambicionada pelo presidente do conselho de administração, José Janguiê Diniz.
Conforme avaliação da XP Investimentos, Ânima e Cogna estão entre as mais endividadas no segmento e devem sofrer pressão com o aumento da taxa Selic, que aumenta a despesa financeira. Conforme a XP, a Ser informou captação de alunos recorde no início de outubro, o que indicaria recuperação a caminho, mas alerta que pode corresponder a "acúmulo criado na temporada de admissão do primeiro semestre", afetado pelo atraso no Enem e pela incerteza em relação à pandemia.
A Yducs é, neste momento, a gigante da educação com situação financeira mais bem avaliada pela XP, portanto com mais potencial para fazer uma eventual oferta de compra. Havia chegado a manifestar interesse nos ativos da Laureate no Brasil, mas acabou desistindo. Outra grande do segmento, a Cogna enfrenta um processo de restruturação desde meados de 2020, com baixa probabilidade de disputar aquisições.
A Cruzeiro do Sul, que a XP não incluiu em sua avaliação do segmento, também chegou a ser cogitada entre as interessadas nas operações da Laureate, mas desistiu. Abriu capital depois que a disputa pela Laureate afunilou entre Ânima e Ser. Em abril, anunciou que mudaria sua estratégia de aquisições para focar na "compra de grupos de ensino de maior porte". Sua transação mais recente havia sido a da Positivo, no Paraná, em 2019, com 1,6 mil colaboradores e 33 mil alunos. Como tinha capital fechado na época, o valor não foi informado.
Por fim, não se pode descartar interesse de outros grupos, inclusive locais, fora do cenário das empresas abertas. Embora a Laureate tivesse dívida de R$ 623 milhões na época da venda, os passivos de R$ 8,6 bilhões da Ulbra podem desestimular, ainda que não sejam repassados ao eventual interessado.