Primeiro foi o ICMS, depois o lucro da Petrobras, enfim veio um ensaio de fundo de estabilização, que não avançou. Se o governo Bolsonaro se focou em apontar culpados, as grandes potências foram à raiz da disparada dos preços de combustíveis.
Só o ensaio de um acordo entre Estados Unidos e China para frear a alta do petróleo já fez efeito: depois de roçar os US$ 85 por barril - US$ 84,78 no dia 8 - a cotação declinou e, nesta quinta-feira (18), está abaixo de US$ 80 (US$ 79,88), neste meio de manhã no Brasil.
É o menor preço em um mês e meio, pelo efeito do anúncio oficial da China de que liberou suas reservas. Diante da inação da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), as duas maiores economias do mundo se uniram para iniciar um movimento de venda de reservas estratégias nacionais.
A Opep é um cartel que, até o início da exploração das reservas de shale gas e shale oil nos EUA, controlava absolutamente os preços da matéria-prima. Perdeu poder, mas segue como grande capacidade de definir cotações. Como disse um especialista no setor, os países do cartel agora "fazem caixa".
Conforme a consultoria Rystad, diante do fracasso da tentativa de "influenciar" a Opep para aumentar a produção - o que aumentaria a quantidade de petróleo disponível, portanto derrubaria os preços - os americanos decidiriam "analisar as ferramentas disponíveis para aumentar o suprimento do mercado".
A resposta foi coordenar uma estratégia de liberação de estoque estratégicos de vários países. Só a dos EUA corresponde a cerca de 600 milhões de barris, conforme estimativa da Rystad. Como quase tudo sobre a China, há incerteza sobre o potencial de liberação das reservas do país. Mas o esforço já envolve outros países representados na Agência Internacional de Energia (AIE). Em seu mais recente relatório, a AIE afirmou que "um alívio no rali dos preços pode estar no horizonte".
Esses sinais de alívio chegam às vésperas do "anúncio" de Bolsonaro, feito no dia 1º de novembro, de que a Petrobras reajustaria novamente os preços dos combustíveis em 20 dias. Será que escaparemos deste?
A política da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação, adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto petróleo cru quanto derivados, como a gasolina. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, que tem preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia, que funciona como um seguro contra perdas.