Desta vez, o novo reajuste nos preços dos combustíveis foi antecedido por uma prova prática da influência presidencial sobre os custos. Na sexta-feira, como a coluna chamou a atenção, o comportamento de Jair Bolsonaro ajudou o dólar a baixar de R$ 5,755 para R$ 5,627.
Então, ao contrário do que costuma dizer o presidente, ele tem, sim, grande capacidade de amortecer os reajustes cada vez maiores e mais frequentes.
Sim, há uma crise global de energia e o preço do petróleo sobe para todos. Nesta segunda-feira (25), o barril do tipo brent, que a Petrobras usa como referência, inclusive, aumenta mais 1,18%, para US$ 86,54.
Mas na fórmula de reajuste da Petrobras, o componente "câmbio" tem peso tão importante quanto o petróleo (veja detalhes abaixo). Como o dólar sobe a cada ronco de motociata presidencial, menos ruído no Planalto se traduziria em menor pressão nessa componente, portanto em menor necessidade de reajuste.
Não seria necessário comprar briga com governadores por um alívio modesto e temporário, nem elaborar estratégias elaboradas de formação de um "colchão" para suavizar as oscilações globais, que deveria ter sido previsto em momentos de baixa no preço do petróleo, ou seja, dependeria de planejamento, um dos muitos pontos fracos do atual governo.
Nem exigiria gasto de capital político e energia em uma grande reforma estrutural, outro capítulo essencial em que faltou esforço. Apenas mudando o foco da comunicação, para gerar menos ruído, como foi feito na sexta-feira (22), o dólar subiria menos. E, portanto, os combustíveis também. Simples assim.
A política da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação, adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto petróleo cru quanto derivados, como a gasolina. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, que tem preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia, que funciona como um seguro contra perdas.