Na véspera, a coluna já estava de cabelos em pé com as projeções de alta de até dois pontos percentuais na taxa Selic na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) que termina nesta quarta-feira (27).
Mas uma outra, ainda mais agressiva, havia escapado ao radar da coluna: José Márcio Camargo, economista-chefe da corretora Genial, não apenas projetou, mas defendeu, o que ele mesmo chamou de "choque de juro": uma alta de 3 pontos percentuais, para 9,25%, de uma só vez.
Camargo não é apenas "mais um" economista-chefe. Foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, doutor em Economia pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) e é referência em estudos e propostas sobre relações do trabalho e inclusão. Então, a coluna perguntou o motivo de uma proposta tão drástica, e ouviu essa resposta:
– É necessário um choque de juro para que o BC possa recuperar credibilidade. Não é uma questão de quanto juro precisa, mas o BC está perdendo credibilidade, com tudo que aconteceu na semana passada, furo no teto, desvalorização cambial, política fiscal mais expansionista.
Diante do espanto da coluna com um aumento que – com certa liberdade matemática, porque não é aconselhável fazer variação percentual de percentuais – representaria uma alta de 50% de uma tacada só, Camargo lembrou de dois "eventos históricos", com finais distintos: a megadesvalorização de 1998, que fez o governo Fernando Henrique trocar a direção do BC duas vezes em poucas semanas até chegar a Armínio Fraga, que elevou a Selic de 25% para 45% e encaminhou uma política fiscal mais dura, e a reeleição de Dilma Rousseff, em 2014/2015, quando depois de negar a necessidade de ajuste durante a campanha, acabou nomeando Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, que "não aguentou nem seis meses", foi substituído e seu sucessor, aliado ao então presidente do BC, que "aceitaram" inflação mais alta e acabaram produzindo estagflação.
A coluna quis saber se o impacto no crescimento de um "choque de juro" nesse momento não seria desastroso, e Camargo ponderou que a perda de credibilidade do BC seria ainda pior. O economista reforçou, sem a coluna perguntar, a importância do resultado da Pnad Contínua divulgado nesta quarta-feira (27), que apontou redução do contingente de desempregados de 13,7% para 13,2%:
– O que aconteceu na semana passada já aumentou o juro de mercado, mas o crescimento econômico do Brasil depende fundamentalmente da retomada da pandemia, e essa volta está forte, especialmente no setor de serviços. O resultado da Pnad foi espetacular, com melhora de 0,5 ponto de um mês para outro. Foram gerados 3,5 milhões de postos de trabalho em um trimestre. É muita coisa.
A coluna ainda quis saber o que aconteceria sem uma alta de 3 pontos percentuais, e Camargo ponderou, então, que não há necessidade de um "número mágico", mas um sinal que o BC não vai tolerar descontrole inflacionário e vai perseguir a meta de inflação de 2022:
– É preciso mandar uma mensagem forte.
Os principais índices de inflação
IGPs: Índices Gerais de Preços, calculados pela Fundação Getulio Vargas. Têm três variações, IGP-M, IGP-DI e IGP-10, com diferença apenas no período de apuração. Cada um é composto por três subíndices: Índice de Preços no Atacado (IPA), com peso de 60%, Índice de Preços ao Consumidor (IPC), com peso de 30%, e Índice Nacional do Custo da Construção (INCC), com peso de 10%.
IPCA: Índice de Preços ao Consumidor Ampliado, calculado pelo IBGE, é considerado o índice oficial do Brasil porque serve de referência para o Banco Central. Mede a variação de preços de produtos e serviços consumidos por famílias com renda entre um e 40 salários mínimos. É calculado duas vezes ao mês, uma com o resultado dos 30 dias encerrados na metade do período, o IPCA-15, e outra com o resultado "cheio", de 1º a 30 de cada mês.
INPC: Índice Nacional de Preços ao Consumidor, também do IBGE, mede avariação nos preços de produtos e serviços consumidos por famílias com renda entre um e oito salários mínimos. É a referência para negociações de reajustes salariais.
IPCs: Índices de Preços ao Consumidor calculados pela FGV, tem quatro variações, entre as quais a mais conhecida é o IPC-S.