Começou nesta terça-feira (26) a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) cercada da maior polêmica dos últimos anos.
A reunião começou no dia em que o IPCA-15 de outubro apontou variação de 1,2% em 30 dias, muito acima de todas as projeções de mercado. Pior, foi precedida do aviso do governo Bolsonaro de que o teto de gastos será movido para cima, o que alterou as projeções de inflação, juro e crescimento da economia.
Para a maioria dos economistas que o BC costuma consultar, a dose na alta de juro terá de subir de 1 ponto percentual para 1,25. Mas para algumas instituições de peso, como o Itaú Unibanco, para que a "contenção de danos" da mudança no teto de gastos seja efetiva, a graduação terá de subir para 1,5 ponto, em duas doses, nesta quarta-feira (27) e em 8 de dezembro, a última decisão do Copom do ano. Como a coluna já observou, o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita, é referência entre economistas, até por ter sido diretor de Política Econômica do BC.
A XP, outra instituição de peso, cujo economista-chefe, Caio Megale, saiu há poucos meses da equipe de Paulo Guedes, aderiu à projeção de aumento de 1,5 ponto percentual na Selic:
– As propostas recentes de mudança no arcabouço fiscal sugerem que o risco fiscal para o qual que o Copom vinha alertando se materializou. Passamos a projetar uma reação mais pronta do Copom, com uma elevação de 1,5 pp esta semana, e a taxa Selic atingindo 11% no final do ciclo de ajuste monetário.
Cristiano Oliveira, economista-chefe do banco Fibra, cita três fatores para justificar a complexa avaliação de cenário que a direção do BC terá de fazer. Além da mudança no teto, que chama de "flexibilização da âncora fiscal" e a piora da qualidade da inflação observada no IPCA-15, elenca ainda a "desancoragem das estimativas para inflação em 2023 e 2024". Oliveira se alinha a Itaú e XP:
– O Copom vai tomar uma decisão muito mais difícil nesta semana do que nas reuniões anteriores. O cenário mais provável, neste momento, é incremento de 1,5 p.p. Acreditamos num statement (comunicado) mais duro na referência à questão fiscal, sinalizando alta na taxa de juro neutra por conta do abandono da âncora fiscal.
Ao menos até a segunda-feira (25), portanto antes da divulgação do IPCA-15 desta terça (26), havia divisão nas apostas para a reunião do Copom: de 43 instituições ouvidas por publicações especializadas, 18 esperavam alta de 1,5 ponto, outras 18, de 1,25 ponto e sete ainda acreditavam em aumento de 1 ponto, como em setembro.
João Beck, economista e sócio da BRA, assessoria especializada para traders (pessoas que fazem intermediação de ações) reforça que a expectativa em relação à Selic aumentou ainda mais diante da ideia do furo no teto de gastos. Além de tentar controlar a inflação elevada, o BC precisa remunerar melhor em reais para evitar fuga de capitais do país e travar o dólar antes que alcance os R$ 6.
O quadro ficou tão complicado que tem até projeção de alta de 2 pontos percentuais, para 8,25%, como a ASA Investments, gestora de investimentos de Alberto Safra, filho do bilionário Joseph Safra. Até onde a coluna viu, é ponto fora da curva. Mas a que "pontos" chegamos...
Os principais índices de inflação
IGPs: Índices Gerais de Preços, calculados pela Fundação Getulio Vargas. Têm três variações, IGP-M, IGP-DI e IGP-10, com diferença apenas no período de apuração. Cada um é composto por três subíndices: Índice de Preços no Atacado (IPA), com peso de 60%, Índice de Preços ao Consumidor (IPC), com peso de 30%, e Índice Nacional do Custo da Construção (INCC), com peso de 10%.
IPCA: Índice de Preços ao Consumidor Ampliado, calculado pelo IBGE, é considerado o índice oficial do Brasil porque serve de referência para o Banco Central. Mede a variação de preços de produtos e serviços consumidos por famílias com renda entre um e 40 salários mínimos. É calculado duas vezes ao mês, uma com o resultado dos 30 dias encerrados na metade do período, o IPCA-15, e outra com o resultado "cheio", de 1º a 30 de cada mês.
INPC: Índice Nacional de Preços ao Consumidor, também do IBGE, mede avariação nos preços de produtos e serviços consumidos por famílias com renda entre um e oito salários mínimos. É a referência para negociações de reajustes salariais.
IPCs: Índices de Preços ao Consumidor calculados pela FGV, tem quatro variações, entre as quais a mais conhecida é o IPC-S.