Há poucos dias, estava construída no mercado a convicção de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) elevaria a taxa Selic em 1,25 ponto percentual. Mas em 14 de setembro, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse que não reagiria " a cada dado de alta frequência que sai".
Foi praticamente um anúncio antecipado da decisão desta quarta-feira (22), de elevar o juro anual de referência de 5,25% para 6,25%, ou seja, manter a alta no ritmo de um ponto percentual a cada reunião, em vez de aumentar a dose para 1,25.
O episódio, inclusive, rendeu críticas a Campos Neto, por anunciar unilateralmente uma decisão que deveria ser do colegiado. Por isso, cada vírgula do comunicado está sendo lida com lupa. Em apenas uma frase, o Copom quis liquidar a volta das expectativas de aumentos maiores nas próximas reuniões: "para a próxima reunião, o Comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude".
Mas até para evitar novos ruídos, além da nova tentativa de frear a pressão por doses mais fortes para conter a inflação, o comunicado deu poucas pistas, além de passar um poderoso recado ao governo Bolsonaro: "Apesar da melhora recente nos indicadores de sustentabilidade da dívida pública, o risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de risco".
A expectativa de aumento na dose de aperto se devia ao resultado acima do esperado da inflação de agosto. O mercado está nervoso, projetando juro básico em alta até 2023 e começando a especular sobre a possibilidade da volta de Selic de dois dígitos, o que não ocorre desde julho de 2017, quando o juro básico de 10,25% foi cortado para 9,25%. Um trecho do comunicado avisa que, mesmo sem aumentar o ritmo, o BC vai jogar duro: "Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado que o ciclo de aperto monetário avance no território contracionista". Traduzindo o banco-centralês: vai elevar a taxa a ponto de encolher a atividade econômica.
Sem novos sustos, o mercado projeta mais duas altas de um ponto para este ano e outra uma dose de igual tamanho no início de 2022. Isso levaria a Selic a 9,25%. Para os dois dígitos, faltaria só 0,75.