O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), elevou o juro básico, nesta quarta-feira (22), em um ponto percentual. Essa é a quinta elevação consecutiva da Selic, que passa para 6,25% ao ano após a batida de martelo do colegiado.
Especialistas e o mercado já esperavam o aumento diante da alta insistente da inflação no país, que flerta com a casa dos dois dígitos. A dúvida era em relação ao tamanho da elevação da Selic. Alguns mais pessimistas especularam o acréscimo de até 1,5 ponto percentual. No entanto, essa projeção perdeu força após o presidente do BC, Roberto Campos Neto, sinalizar na última semana aumento em patamar confirmado nesta quarta-feira.
Com a decisão desta quarta-feira, a Selic se encontra no nível mais alto desde julho de 2019, quando estava em 6,5% ao ano. De agosto de 2020 a março de 2021, a taxa se manteve no mínimo histórico de 2% ao ano. A partir daí, o BC recomeçou a elevar a Selic, numa tentativa de controlar a inflação.
Em comunicado, o Copom também adiantou que projeta realizar um novo aumento da taxa, de igual magnitude, na próxima reunião, em 26 e 27 de outubro. Ou seja, o juro básico já subiria para 7,25% ao ano.
Na nota, o colegiado comentou que "no atual estágio do ciclo de elevação de juros, esse ritmo de ajuste é o mais adequado para garantir a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante e, simultaneamente, permitir que o Comitê obtenha mais informações sobre o estado da economia e o grau de persistência dos choques".
O diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira, afirma que o avanço do juro no país ocorre em um momento ruim, mas é necessário. O dirigente destaca que o Copom não tem outra alternativa a não ser elevar a Selic diante da pressão causada pela inflação na economia do país:
— É um mal necessário. Subir juro é ruim para a economia, que já está andando de lado e vai piorar, mas não tem outro caminho. Se não fizer isso, a inflação sai do controle e passa a ser um problema muito maior. Porque, depois, para você trazer a inflação para a meta com uma economia que é totalmente indexada é pior.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que serve de referência para o BC, fechou em 9,68% no acumulado de 12 meses em agosto. O índice que mede a inflação oficial do país segue acima do teto da meta para 2021: 5,25%.
O dirigente da Anefac destaca que o aumento da Selic para combater a inflação, mesmo que necessário, ocorre no pior dos cenários. Oliveira explica que a inflação combatida no país com aumento de juro não ocorre pela demanda aquecida, mas, sim, por outras questões, como instabilidade política, dólar elevado e crise hídrica. Esse cenário somado a outros fatores que freiam a economia do país cria ambiente mais delicado.
— Estamos subindo juros no momento em que temos desemprego elevado, endividamento elevado, expectativa de queda do crescimento econômico. Isso faria com que o Banco Central de qualquer lugar do mundo reduzisse os juros para incentivar a demanda. Mas nós estamos subindo juros pelo pior motivo — pontua Oliveira.
A Federação das Indústria do Estado (Fiergs) informou, por meio de nota, que a inflação persistente e em alta justifica a ação do BC. Já para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o novo aumento da Selic põe em risco a recuperação econômica e eleva a probabilidade de nova recessão. Conforme o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, elevar a Selic e o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) na atual conjuntura prejudica a retomada sustentada com geração de empregos e renda.
Eduardo Castro, diretor de investimentos e sócio Portofino Multi Family Office, afirma que o movimento realizado pelo Copom visa combater a inflação no médio prazo. Em relação aos primeiros impactos, o executivo avalia que ocorrem no crédito e nos investimentos (veja mais abaixo).
— O Banco Central não tem a pretensão de corrigir a inflação no curtíssimo prazo. Ele tem a intenção de fazer com que a inflação futura não desancore — avalia Castro.