Depois que o boletim Focus, do Banco Central, apontou inflação e juro subindo, com alta do PIB abaixo de 5% neste ano, na projeção mediana (mais frequente) das cerca de cem instituições financeiras do país, uma específica para 2022 chamou atenção.
O Itaú Unibanco mudou sua estimativa para a atividade econômica no próximo ano de uma alta tímida de 0,5% para uma queda na mesma proporção, de 0,5%.
Para efeito de estimativas macroeconômicas, o Itaú Unibanco não tem peso apenas por ser o maior banco privado do país. Seu economista-chefe, Mario Mesquita, que comanda a área que analisa e projeta movimentos da economia, tem credibilidade acima da média do mercado por ter sido diretor de Política Econômica do BC.
Em nota, o Itaú Unibanco avalia que "notícias sobre o aumento dos gastos fiscais aumentaram as dúvidas sobre o futuro do arcabouço fiscal no Brasil, que desde 2016 tem sido baseado em um teto de gastos ajustável". O comunicado assinado por Mesquita argumenta que "o aumento da incerteza fiscal implica em um risco-país mais alto, maior depreciação do real, piores perspectivas para a inflação e, em última instância, uma taxa de juros neutra mais alta".
Por isso, o Itaú projeta dois aumentos da Selic não de 1,25 ponto, como a média do mercado apontou no Focus, mas em 1,5 ponto na reunião que será concluída nesta quarta-feira (27), e outro de igual tamanho em dezembro. E prevê, ainda, mais duas altas de 1 ponto percentual em 2022, para encerrar o atual ciclo de alta com o juro básico em 11,25% ao ano. Na definição do Itaú, ao BC caberá o trabalho de "contenção de danos":
"Taxas de juros mais altas levarão a uma atividade econômica mais fraca, e agora vemos recuo moderado de 0,5% do PIB em 2022 (nossa projeção era de crescimento de 0,5% anteriormente)".
Segundo Mesquita, o que poderia aliviar as condições financeiras e reduzir a incerteza seria uma "rápida retomada da agenda de reformas, incluindo medidas como uma reforma administrativa ampla, que fortaleceria a flexibilidade e resiliência fiscais". Pelas mais recentes movimentações do governo Bolsonaro, a reforma administrativa não é prioridade, entre outros motivos porque é algo difícil de aprovar com o país já imerso no debate eleitoral.