O palavrão vinha aparecendo no debate econômico há alguns meses, como um risco no horizonte. Com os números que emergem das revisões de estimativas tanto para a inflação quanto para o crescimento econômico em 2022, desembarcou de vez.
Fenômeno "batizado" nos anos 1970 nos países desenvolvidos, e vivido na prática entre os anos 1980 e 1990 no Brasil, um palavrão designa o quadro que combina inflação alta e economia quase estagnada: estagflação.
O debate sobre o diagnóstico se fortaleceu com a variação de -0,1% no PIB do segundo trimestre e a inflação elevada, como se viu na surpresa negativa com o resultado do IPCA de agosto.
Os números da edição desta segunda-feira (13) do Boletim Focus, chancelam a hipótese que começa a ressurgir na análise de economistas. Todos os dados que contribuiriam para a estagflação acentuaram sua trajetória: a projeção de avanço no PIB para 2022, que já havia encolhido para abaixo de 2%, acelerou a redução, de 1,93% na semana passada para 1,72% nesta semana. As projeções para este ano também diminuíram, pela quinta semana consecutiva, e já ameaçam "furar" o patamar de 5%, em apenas 5,04%.
No outro pilar do palavrão, o da inflação, as estimativas para 2022 subiram pela oitava semana consecutiva, de 3,8% na semana passada para 4,03% nesta semana. Para este ano, a mediana (mais frequente) sofreu a 23% elevação consecutiva e alcançou redondos 8%.
Um fator crucial para essa relação, que é o juro básico, também deu um salto, de 7,63% para 8% neste ano. E segue nesse patamar para 2022, o que significa que o mercado não vê melhora significativa no cenário que projeta para o próximo ano. É a consciência de que os efeitos da alta do juro para segurar a inflação — crédito mais caro e menor consumo — vão se somar aos fatores que já desenham os contornos da estagflação no horizonte.