No primeiro trimestre deste ano, o PIB do Rio Grande do Sul há havia subido sólidos 4,2% (no dado ajustado) ante o período imediatamente anterior e 5,2% (também ajustado) ante o mesmo período do ano passado. Como se sabia que o efeito da safra agrícola viria entre abril e junho, já se falava em dois dígitos, mas a arrancada de 27,7% na comparação anual surpreendeu a todos.
Diante desse número tão pouco provável, a alta de 2,5% em relação ao trimestre anterior parece "mais bem plantada", para usar uma expressão ligada ao campo. O salto de 27% ocorreu sobre um abismo de 17%, resultado da combinação de estiagem e pandemia.
Como havia chamado os 4% de alta no primeiro trimestre em relação ao trimestre anterior — ou 5,5% na comparação anual — de "pibão", a coluna ficou sem palavras para qualificar o resultado do período entre abril e junho de 2021. É claro que são números tingidos pela anormalidade da pandemia, no Estado associada à estiagem que frustrou a colheita de soja concentrada no segundo trimestre de todos os anos.
Provavelmente, nunca mais vejamos algo parecido. E é melhor que não haja, mesmo, porque variações tão fortes acabam provocando distorções, como falta de matéria-prima e insumos para a produção. Mas a reação da economia gaúcha foi tão forte que zerou as perdas acumuladas nos últimos quatro trimestres. Até março, ainda "devíamos" 4,9%, pior do que a média nacional. Agora, há crescimento acumulado de 6,5% em quatro trimestres. Se chegaremos ao final do ano com um número semelhante vai depender da inflação, da crise energética e de quanta incerteza a mais será criada no país.
O ponto de alerta está na falta de uniformidade do resultado. A indústria sofreu um tombo de 4,6% em relação ao trimestre anterior, embora tenha subido 21,2% ante igual período de 2020. E mesmo que 13 das 14 atividades industriais computadas no PIB tenham crescido, o segmento de produtos alimentícios — mais pressionado pela inflação até há pouco — ainda tem queda de 2,4% no segundo trimestre, comparado a igual período de 2020. No comércio, seguem no negativo as lojas de equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-9,5%), relacionado à extensão do home office, e hipermercados e supermercados (-6,7%), outra consequência da alta nos preços.
A coluna quis saber qual foi a reação dos técnicos do Departamento de Economia e Estatística (DEE) diante do número totalmente fora da curva. Vanessa Sulzbach, coordenadora da Divisão de Análise Econômica do DEE, relatou que os dados foram checados várias vezes. Pedro Zuanazzi, diretor do DEE, disse que sua primeira reação foi de espanto, mas como o resultado foi o mesmo para cálculos cruzados de vários estatísticos, deu segurança. Secretário de Planejamento, Governança e Gestão, Claudio Gastal, confessou que estava em férias mas fez questão de estar presente, até porque a primeira divulgação de PIB da qual participou havia sido a de pesadelo:
— Agora, participei do pior e do melhor resultado.