Depois de pensar em desistir, Cynthia Geyer trocou o verbo para "investir". No meio da pandemia, fez aporte de cerca de R$ 3 milhões para ampliar sua Estação das Artes, em Porto Alegre.
Bacharel em piano e mestre em Educação Musical pela UFRGS, Cynthia fundou sua escola há 20 anos. E o que a fez mudar o verbo, diz, foi a reação dos alunos a um sarau virtual organizado no final do ano passado.
— A força veio de ver a emoção dos alunos e dos pais ao participar. Estava sem vê-los no dia a dia na escola, e muitos comentavam, felizes, que seus avós no interior poderiam assistir, já que era uma transmissão pela internet. Senti a arte valorizada. As pessoas estavam em crise, com medo do caos, mas se emocionaram. Pensei 'se os alunos querem, quem sou eu para desistir'. Essa resiliência deles foi fundamental — relata Cynthia.
Como investir R$ 3 milhões em uma escola de arte não é simples, a coluna quis saber se só os resultados da Estação bancavam o aporte. Cynthia disse ter usado um imóvel da família, que administra vários em Porto Alegre, para garantir a manutenção das atividades:
— Sei que tenho uma situação privilegiada. Se tivesse de pagar aluguel, não teria sobrevivido. Agora, tem todo um processo pela frente, mas a decisão de seguir foi tomada. Um grande amigo, que tem uma escola mais antiga do que a minha, só sobreviveu, também, porque tem espaço próprio e trabalha com a esposa e filhos. Negócios familiares têm mais capacidade de sobreviver. Acredito muito na educação pela música e pela arte.
A Estação das Artes chegou a ter três unidades, inclusive uma no Colégio Farroupilha, que somavam 600 alunos. Também chegou a manter um café com apresentações de teatro musical. E antes da pandemia, já havia sido desafiada:
— Em 2018, depois de estar com duas unidades fechadas e passado pela crise de 2016, pensei 'ou desisto ou vou mais um pouco'. Mas não podia ir sozinha, precisava de apoio familiar. Surgiu a possibilidade de comprar a casa. Em vez de transformar em negócio imobiliário como outro qualquer, veio a vontade de aumentar a escola, especialmente a parte infantil. Começamos a obra em 2019, que foi um ano superbacana, pensamos em abrir entre maio e junho de 2020. Aí veio a pandemia.
Diante da impossibilidade de receber alunos, teve de demitir parte da equipe e suspender contratos dos demais. Em março deste ano, o número de alunos havia caído para 21. Voltou o risco de fechar, superado pela emoção dos alunos e familiares.
O casarão na Rua Schiller, pintado de branco, com janelas e portas em tom de rosa forte, retomou as atividades presenciais em julho e já está com 130 alunos. Uma das características da Estação é a precocidade do ensino. O projeto Estação Bebês vai de dois meses de vida aos dois anos. O Pianito ensina dos três aos sete anos.
— Hoje temos um ex-aluno que dá aulas na escola, outros seguiram como pianistas. Ver a história que construímos também dá força para seguir. Para ser um projeto viável, a meta é buscar a sustentação, e para isso preciso ao menos de 300 alunos, até para não deixar de atender à ONG que apoiamos com aulas de música já pelo quinto ano — diz Cynthia.