Ainda não refeita do espanto com a picanha de R$ 150, a coluna recebeu do colega de redação Fábio Schaffner a dica de que há cortes que chegam a R$ 292,90 ao quilo em Porto Alegre. E veio devidamente acompanhada de provas documentais (na foto à esquerda, o preço do kg aparece no número menor, os R$ 235, são para 804 gramas), como convém a um bom repórter.
A joia tem nome de corte argentino, mas a coluna seguiu investigando e não é importada, o que ajudaria a explicar o valor: vem de gado criado em Minas Gerais, por uma empresa local que criou a grife Carapreta (por ter começado com a raça angus, conhecida pela cor).
Assim como a picanha Bassi, essa peça tem grife e vem de uma raça conhecida pelos preços exorbitantes, a wagyu, como já explicou outra colega, a colunista de Campo e Lavoura Gisele Loeblein (clique aqui para saber mais sobre o gado de origem japonesa).
Então, parte da explicação para os cortes com valores estratosféricos é, sim, a inflação, mas outra é o fato de que são produtos destinados ao consumo de uma faixa de renda bem específica – e muito alta. A grife Bassi hoje pertence à Marfrig e é uma referência a Marcos Bassi, açougueiro que começou vendendo miúdos na rua, tornou-se grande empresário e é apontado como o criador do corte fraldinha. Bassi morreu em 2013, mas a família continua no negócio.
A Carapreta, por sua vez, foi fundada por três irmãos mineiros, José, Rodolfo e Adolfo Géo, que tem certificação Angus Sustentabilidade, da Associação Brasileira de Angus, auditada pela alemã Tüv Rheinland. Passou a criar a wagyu, de origem japonesa, no semiárido de Minas Gerais.
Uma curiosidade é o fato de a marca oferecer o corte tomahawk (mesmo nomes dos mísseis usados pelos Estados Unidos na Guerra do Golfo). De origem americana, claro, virou moda no Brasil há relativamente pouco tempo. É parte da costela bovina e parte bife ancho, com osso de cerca de 30 centímetros (foto ao lado). E embora o preço da peça seja maior do que a do chorizo à la argentina, é o custo do osso: o quilo vale R$ 235.
Quais são os principais índices de inflação
IGPs: Índices Gerais de Preços, calculados pela Fundação Getulio Vargas. Têm três variações, IGP-M, IGP-DI e IGP-10, com diferença apenas no período de apuração. Cada um é composto por três subíndices: Índice de Preços no Atacado (IPA), com peso de 60%, Índice de Preços ao Consumidor (IPC), com peso de 30%, e Índice Nacional do Custo da Construção (INCC), com peso de 10%.
IPCA: Índice de Preços ao Consumidor Ampliado, calculado pelo IBGE, é considerado o índice oficial do Brasil porque serve de referência para o Banco Central. Mede a variação de preços de produtos e serviços consumidos por famílias com renda entre um e 40 salários mínimos.
INPC: Índice Nacional de Preços ao Consumidor, também do IBGE, mede avariação nos preços de produtos e serviços consumidos por famílias com renda entre um e oito salários mínimos. É a referência para negociações de reajustes salariais.
IPCs: Índices de Preços ao Consumidor calculados pela FGV, tem quatro variações, entre as quais a mais conhecida é o IPC-S.