Certo, é uma carne de grife, mas ainda assim espanta. Um leitor da coluna foi ao supermercado e "descobriu" o pequeno tesouro na prateleira das carnes: um quilo e 390 gramas de picanha por exatos R$ 151,37, como mostra a foto ao lado.
Conforme o relato do observador consumidor, é frequente flagrar clientes escaneando as prateleiras refrigeradas com os olhos antes de optar por um corte. O preço das carnes é um dos principais sintomas da inflação que voltou a incomodar em 2020, decorrente da inesperada recuperação do consumo e do desequilíbrio na cadeia de suprimentos provocado pela pandemia.
Dias antes, a coluna soube, por um amigo jornalista, que o quilo de picanha custa o equivalente a R$ 300 na Noruega, conhecida pelo alto custo de vida decorrente, em boa parte, da localização geográfica. Mais um pouquinho, e o país que se situa entre os maiores produtores de proteína animal vai cobrar preço semelhante a um território que passa a maior parte do ano sob a neve. Era só o que faltava.
Na terça-feira (26), o IBGE divulgou os dados do IPCA-15, que precede o índice oficial de inflação do país. As carnes mantêm o ritmo de alta, embora com intensidade ligeiramente menor: em janeiro, subiram mais 1,18%, depois de ter aumentado 5,53%, na média nacional. Em Porto Alegre, ao longo de 2020, o preço médio dos cortes disparou 20,17%, ainda abaixo de outras capitais: em Salvador, chegaram a entrar em órbita, com salto de 31,78% ao longo do ano passado.
Neste primeiro trimestre, há expectativa de que parte das altas de custo registradas em outros indicadores de preços, especialmente os da série IGP da Fundação Getulio Vargas, chegue à ponta do consumo, pressionando o IPCA. Há projeções de que o acumulado em 12 meses alcance em breve a 6%.
É por isso que, também na terça-feira (26), a ata da reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC) foi lida por muitos economistas como um aviso de que o juro básico vai começar a subir. A aposta de André Perfeito, da corretora Necton, por exemplo, é de uma alta de 0,25 ponto percentual em 17 de março, para chegar ao final de 2021 em 4% ao ano, o dobro da taxa atual.
Quais são os principais índices de inflação
IGPs: Índices Gerais de Preços, calculados pela Fundação Getulio Vargas. Têm três variações, IGP-M, IGP-DI e IGP-10, com diferença apenas no período de apuração. Cada um é composto por três subíndices: Índice de Preços no Atacado (IPA), com peso de 60%, Índice de Preços ao Consumidor (IPC), com peso de 30%, e Índice Nacional do Custo da Construção (INCC), com peso de 10%.
IPCA: Índice de Preços ao Consumidor Ampliado, calculado pelo IBGE, é considerado o índice oficial do Brasil porque serve de referência para o Banco Central. Mede a variação de preços de produtos e serviços consumidos por famílias com renda entre um e 40 salários mínimos.
INPC: Índice Nacional de Preços ao Consumidor, também do IBGE, mede avariação nos preços de produtos e serviços consumidos por famílias com renda entre um e oito salários mínimos. É a referência para negociações de reajustes salariais.
IPCs: Índices de Preços ao Consumidor calculados pela FGV, tem quatro variações, entre as quais a mais conhecida é o IPC-S.