No final da semana passada, um sinal do Planalto exasperou os americanos. A derrota de Donald Trump nas eleições à Presidência dos Estados Unidos poderia fazer com que o presidente Jair Bolsonaro revertesse a tendência de veto à participação da chinesa Huawei na instalação da infraestrutura da tecnologia celular de quinta geração (5G) no Brasil, informação apurada pelo jornal Valor Econômico. Como não foi desmentida, causou inquietação.
Enquanto a eleição municipal ainda domina as atenções, o clima de guerra fria entre Estados Unidos e China alcançou temperatura negativa maior.
Os americanos lançaram a Clean Network (Rede Limpa), iniciativa global cujo objetivo é banir a tecnologia chinesa – essencialmente, Huawei e ZTE – das redes de telecomunicações. Já aderiram países como Reino Unido, República Checa, Polônia, Suécia, Estônia, Romênia, Dinamarca e Letônia. Ambas são acusadas pelo governo Trump de espionar para o governo da China – sem provas. Argumentam que as empresas chineses "têm fama" de roubar propriedade intelectual.
No site da Rede Limpa (state.gov/the-clean-network), está publicada uma declaração do ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo: "O Brasil é o 50º país a apoiar os princípios da Rede Limpa", acompanhada de outra do secretário para Negociações Bilaterais e Regionais nas Américas, Pedro Miguel da Costa e Silva: "Brasil apoio os princípios da Rede Limpa proposta pelos EUA, incluindo a OCDE, que objetiva promover, no contexto da 5G e outras tecnologias, um ambiente seguro, transparente e compatível, com valores democráticos e liberdades fundamentais".
Entre os argumentos que os americanos têm usado com o governo brasileiro está o de que a 5G será a base da nova economia, baseada em serviços, tecnologia e criação de propriedade intelectual. Uma das dificuldades é substituir instalações já existentes, de 3G e 4G, com tecnologia da Huawei.
Para quebrar as resistências das operadoras no Brasil, que reclamam de aumento de custos, os EUA acenaram com financiamento de US$ 1 bilhão pelo Eximbank, que facilita exportações de produtos americanos. As empresas consideram o valor baixo para o tamanho das necessidades, mas a reação americana foi dura: algumas empresas exageram nos valores porque buscam "o melhor negócio".
E também fazem uma advertência: a partir de 2021, a Huawei não teria chips suficientes para todos seus produtos, porque muita tecnologia é baseada em patentes americanas. Como neste ano os EUA decidiram controlar a exportação dessa tecnologia, preveem que assim conseguirão desabastecer a gigante chinesa.
Outro novo fator de pressão é informar que cada embaixada e consulado americanos só poderão usar a Rede Limpa, ou seja, livre de tecnologia chinesa. Assim, optar por Huawei e ZTE poderia ser um beco sem saída. Esse é, assumidamente, o "jogo duro" dos americanos.