Não foi em uma obscura república de algum canto de planeta, mas no país que se intitula a maior democracia do mundo. No debate presidencial entre Donald Trump e Joe Biden, algumas das palavras e expressões mais usadas foram "palhaço", "mentiroso", "cale a boa", "ele não sabe nada", "ele não sabe fazer".
Trump repetiu a estratégia de tentar calar o adversário, mas o candidato democrata, Biden, não pareceu estar adequadamente preparado para o embate que mais pareceu bate-boca entre valentões da sexta série do que um evento que ajudará a definir o comando da maior economia do planeta.
Nessa troca de insultos, até o Brasil foi usado como arma. Foi para atacar Trump que Biden falou em doar US$ 20 bilhões para socorrer a Amazônia:
– A maior floresta do mundo está sendo destruída e ele (Trump) não faz nada. Vamos pegar US$ 20 bilhões e dizer: 'Aqui está, parem de destruir a floresta'.
E emendou que, se o desmatamento não cessar, poderia haver "consequências econômicas significativas". Trump, claro, nem se dignou a responder. Do ponto de vista do Brasil, melhor não contar com promessas de campanha de outros países, se nem as feitas aqui são cumpridas. E a não ser pelas acusações de Trump sobre um dos filhos de Biden, Hunter, outros países sequer foram citados. Nem o debate sobre a tempestuosa relação entre EUA e China patrocinada por Trump foi abordada. Isso mostra os dois candidatos totalmente focados nas questões internas, o que não é exatamente bom sinal para o Brasil.
Economistas e especialistas em relações internacionais vêm advertindo há meses que a adesão incondicional do governo Bolsonaro a Trum pode custar caro se Biden vencer a eleição. O candidato democrata não se fortaleceu muito no debate da terça-feira à noite, mas segue entre seis e sete pontos na frente do republicano que tenta a reeleição nas principais pesquisas de intenção de voto.
A XP Investimentos trouxe na manhã desta quarta-feira (30) a informação de que, "nos mercados de apostas, democratas mantiveram a vantagem tanto na disputa presidencial, quanto nas parlamentares. Durante e após o debate, Biden ganhou 2pp de probabilidade (61) e Trump perdeu 2pp (42)".
Se não se pode contar com os US$ 20 bilhões, uma eventual gestão Biden tende a ser mais focada em temas ambientais. O democrata não aceita a expressão "Green Deal", referência à retomada econômica em bases ecológicas que remete ao New Deal, o plano de recuperação dos EUA depois da Grande Depressão dos anos 1930. Mas anunciou no início deste mês um programa de US$ 2 trilhões em quatro anos para desenvolver energias limpas e frear as mudanças climáticas. É o sentido inverso do adotado pelo governo Bolsonaro.