Catarinense de Joinville, Mauricio Harger assumiu a direção-geral da CMPC (ex-Celulose Riograndense, Aracruz, Riocell e Borregard) em junho de 2018. Formado em engenharia mecatrônica pela PUC de Minas Gerais, com MBA pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), chegou a atuar em home office no início da pandemia. Depois, quis ficar na empresa, solidário à equipe que segue produzindo celulose, matéria-prima de lenços descartáveis e outros produtos de proteção ao contágio. Em casa ou na empresa, gosta de trabalhar ao som de Frédéric Chopin ao piano, compositor polonês radicado na França no século 19. Harger aprendeu a tocar piano ainda criança e avalia que ajuda na concentração.
Isolamento
"No início da pandemia, estive trabalhando de forma remota, mas logo em seguida comecei a vir para a empresa e tenho trabalhado no meu escritório, na CMPC. Por sermos uma indústria essencial, nossa matéria-prima é base para a produção de embalagens de remédios e alimentos, além de itens de higiene e limpeza, então temos de seguir trabalhando para que nada falte na casa das pessoas. Entendo que, como diretor-geral, preciso dar exemplo e estar junto à equipe da operação para que sigamos firmes em um momento como este. Por outro lado, adotamos o home office para a área administrativa, sendo a indústria pioneira a implementar um rígido protocolo com mais de 20 medidas preventivas e de segurança. Deu tão certo que se instalou rapidamente uma verdadeira cultura de prevenção na nossa planta industrial, por meio do uso diário de máscaras, higiene constante e respeito ao distanciamento entre as pessoas. Distribuímos mais de 11 mil kits para as famílias dos colaboradores, com máscaras cirúrgicas, álcool gel e luvas de borracha, com o objetivo de protegê-los e reforçar que, assim como dentro da companhia, os cuidados também devem ser tomados fora do ambiente de trabalho, principalmente para quem precisar ir ao mercado, farmácia e afins."
Leitura e lazer
"Durante o trabalho, tenho costume de ouvir música de piano, em especial Chopin. Durante o lazer, tenho andado de bicicleta pelo condomínio com minha filha de oito anos. Voltei a nadar há algumas semanas, quando liberaram a piscina com agendamento, e, claro, tenho feito muito churrasco nos finais de semanas. Além disso, o frio do Rio Grande do Sul também nos convida a beber bons vinhos à frente da lareira. Cuidar da casa também tem feito parte do meu lazer. Tenho dedicado algum tempo a organizar alguns ambientes interiores, aproveitei e automatizei algumas funções como luzes, piscina, aquecedores por comando de voz e programações inteligentes. Sou apaixonado por tecnologias que facilitam a vida das pessoas."
Combate ao coronavírus
"É desafiador para todos. Tenho procurado me manter sereno e tranquilo para me proteger, proteger minha família e, no que diz respeito à CMPC, proteger nossos colaboradores e prestadores de serviços e tomar as melhores decisões para que possamos combater o coronavírus da maneira mais segura possível. Na empresa, costumamos dizer que temos um desafio triplo: o primeiro que é proporcionar um ambiente de trabalho seguro e sadio. O segundo é manter nossos mais de
6,5 mil empregos e nosso elevado volume de compras locais no Rio Grande do Sul, e claro, com isso garantir que as cidades onde operamos mantenham suas economias aquecidas. O terceiro desafio é garantir a continuidade da produção de celulose, matéria-prima para diversos itens essenciais."
Aprendizado
"Li uma entrevista do ex-presidente americano, Barack Obama, em que dizia "vocês não precisam aceitar o mundo como ele é, podem criar um mundo como poderia ser". Esse momento tem proporcionado uma oportunidade de rever nossas atitudes, de perceber os sinais que o mundo está passando para gente. Estamos vendo cada vez mais o poder público, iniciativa privada e sociedade civil juntos, discutindo em prol do bem comum, como cada ator pode contribuir. O vírus chegou e mostrou o quanto devemos ser colaborativos. Temos de nos apossar desse sentimento de empatia, dessa positiva ansiedade de ajudar o próximo e iniciar a transformação da realidade. Outro aprendizado é a mudança na forma como nos relacionamos com a natureza. Precisamos rever essa relação com o ambiente e zelar pelos nossos recursos, em vez de simplesmente usá-los. O ser humano tem de sentir esse choque que o mundo nos deu."
Reflexões
"A pandemia nos colocou de frente a um mundo de incertezas, o que gera muitas reflexões sobre a forma como nos relacionamos com a sociedade, entre nós e com o ambiente. Esse momento revela a necessidade de uma prática mais profunda de cooperação, nos faz entender que agir isoladamente nos fará correr na via contrária. O conceito de geração de valor compartilhado, por exemplo, que envolve a geração de valor econômico de forma a criar também valor para a sociedade, nunca fez tanto sentido. O vírus, ao mesmo tempo em que promove o isolamento, tem gerado um sentimento de coletividade em escala global. Vimos isso entre cientistas em busca de uma vacina, nos profissionais de saúde atuando para salvar vidas e no poder público. Penso que, junto a todas as suas dores, essa crise também traz oportunidades de um recomeço, uma reconstrução e, quem sabe, do mais contemporâneo clichê de um 'novo normal'".