O jornalista Leonardo Vieceli colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
O maior rendimento por litro é a aposta da Petrobras para compensar a possível alta no preço da gasolina a partir de agosto. O aumento em questão deve ser provocado por mudanças na composição do combustível que entram em vigor no próximo dia 3.
As alterações, determinadas pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), buscam elevar a qualidade da gasolina no Brasil, com a definição de nível mínimo de octanagem, por exemplo. A ideia é aproximá-la das características do combustível vendido na Europa e nos Estados Unidos.
Em nota, a ANP afirma que as novas especificações "viabilizam a introdução de tecnologias de motores mais eficientes, com menores níveis de consumo e emissões atmosféricas". A agência havia publicado em janeiro a resolução para que as empresas se adequassem às alterações até 3 agosto.
"Será dado prazo adicional de 60 dias para as distribuidoras e de 90 dias para os revendedores se adequarem, permitindo o escoamento de possíveis produtos comercializados até o dia 2 de agosto ainda sem atender integralmente às novas características", sinaliza a agência.
— É como comparar um uísque de 12 anos com um de oito. Hoje, estamos com o de oito. A qualidade vai subir. Teremos um combustível com melhor rendimento — define João Luiz Zuñeda, sócio-fundador da consultoria MaxiQuim.
A Petrobras projeta que, em razão da mudança na composição, o consumo de gasolina cairá de 4% a 6%. Ou seja, o consumidor conseguiria rodar mais por litro, o que compensaria o aumento nos custos de produção das refinarias, conforme a estatal. Em resposta à coluna, a companhia acrescenta que o valor do combustível segue acompanhando a variação do petróleo no mercado internacional.
As alterações, contudo, tendem a encontrar resistência em momento inicial, diz Zuñeda:
— O desgaste no motor será menor com a nova gasolina. É lógico que, em um primeiro momento, é difícil ter essa percepção, ainda mais durante uma crise. As pessoas estão poupando dinheiro. Ninguém gosta de pagar mais. Só que é importante entender que o produto não será mais o mesmo.
A advogada Rute Carolina Fernandes, que atua na área de direito do consumidor, relata que as mudanças buscam melhorar a qualidade da gasolina, mas faz uma ressalva. Motoristas podem encontrar dificuldades para atestar os avanços prometidos no combustível, diz a sócia do escritório Rossi, Maffini, Milman & Grando Advogados.
— É difícil ver se vale a pena ou não pagar mais. O aumento vai ter reflexos em outros segmentos. Vejo a situação com cautela. O consumidor vai ficar nas mãos dos órgãos responsáveis e dos revendedores, que vão ter de mostrar a qualidade — frisa.
Na última semana, o litro da gasolina custou R$ 4,115, em média, nos postos do Estado. É o maior valor da Região Sul.