Com movimento de alta iniciado ainda em maio, as bolsas da Europa, dos Estados Unidos e do Brasil decolaram nos últimos dias. Nesta quarta-feira (3), o Ibovespa avançou 2,15%, atingindo 93.002 pontos. É certo que o mercado financeiro foi o primeiro afetado pela crise do coronavírus, com queda de quase 50% em dois meses. Seria normal que puxasse também a fila da recuperação. Em boa parte, é disso que se trata.
Mas a subida forte e rápida tem feito analistas buscarem explicações mais detalhadas, até porque a retomada na economia real ainda parece incerta e distante. Nos EUA, onde a covid-19 segue ceifando vidas e as ruas estão convulsionadas, já se fala até em bloody rally (corrida sangrenta), ou seja, uma euforia financeira que contrasta com a vida dos cidadãos.
– À primeira vista, parece que os mercados de capitais se descolaram da realidade e agem por vontade própria. A aparente dissociação tem uma razão bastante simples: emissão monetária – diagnostica André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton.
O economista lembra que o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) elevou a quantidade de dinheiro em circulação de maneira acentuada para enfrentar a pandemia. Com o desemprego em níveis históricos nos EUA, essa expansão não vira alta de preços na mesa do consumidor, mas gera o rali em Wall Street.
Perfeito avalia que ocorre algo semelhante no Brasil. Ele detectou alta de 42% no balanço do Banco Central (BC) entre dezembro de 2019 e abril de 2020, de R$ 1,88 trilhão para R$ 2,68 trilhões. Na origem, estariam as iniciativas do BC de oferecer liquidez (disponibilidade de transformar ativos financeiros em dinheiro vivo). Perfeito avalia que o fenômeno deve se estender, levando a uma "aparente assimetria entre a economia real e a Faria Lima (avenida de São Paulo que concentra sedes de instituições financeiras).