No pronunciamento da noite de segunda-feira (1), no qual ameaçou colocar as forças armadas nas ruas para debelar o que chamou de “atos de terror doméstico”, o presidente Donald Trump jogou para a torcida, sua base eleitoral conservadora. De olho na reeleição, o republicano recorre a seus fiéis simpatizantes no momento em que é pressionado em duas frentes: pela pandemia do coronavírus, que tem no país sua face mais devastadora (103 mil mortos e 1,7 milhão de infectados) e a mais grave onda de protestos raciais da história recente, deflagrada pelo assassinato do negro George Floyd por policiais brancos em Minneapolis.
Então, Trump apela para o uso da força, ao se autoproclamar presidente “da lei e da ordem” e ao jogar a culpa (de novo, como fizera semanas atrás, em relação ao avanço do coronavírus) nos governadores, na sua visão, lenientes diante dos atos de violência.
Antes do pronunciamento na TV, o presidente já dera outra demonstração simbólica, que toca fundo em sua base eleitoral religiosa, em especial os do Bible Belt (o cinturão bíblico do sudeste americano). Deixou a Casa Branca a pé (no dia anterior, precisou se refugiar num bunker do prédio porque os protestos chegaram muito perto, logo esta foi mais uma demonstração de força) e foi até a St. John’s Church, conhecida como a igreja dos presidentes, cuja edificação foi danificada pelas manifestações. Na porta, bradou com a Bíblia na mão: "Os EUA são o melhor país do mundo".
Os gestos e as palavras com conotação nacionalista agradam seu eleitor mais fiel, mas têm potencial de incendiar ainda mais os protestos e enfurecer os manifestantes. Trump é visto como um presidente racista por 80% dos negros americanos, segundo pesquisas. Não será com a mão pesada que os Estados Unidos serão pacificados.