"O Banco do Brasil não é tatu nem cobra. Não é privado, nem público (...). O Banco do Brasil é um caso pronto de privatização". Esse trechos da manifestação do ministro da Economia, Paulo Guedes, no vídeo da famigerada reunião do dia 22 de abril foram levados muito a sério pelo mercado financeiro. Na segunda-feira (25), primeiro dia útil após a divulgação do vídeo, as ações do BB subiram 10,49%, sinal de aposta em uma estratégia que contraria os interesses do presidete Jair Bolsonaro, como deixaram claro tanto Guedes quanto o secretário especial de Desestatização, Salim Mattar, em entrevista à coluna:
— Essa lista não inclui os bancos. Banco do Brasil, Caixa e Petrobras estão fora da lista de privatização. Isso é uma decisão de governo.
Citado por Guedes na reunião, o prório presidente do BB, Rubem Novaes, já admitiu que, apesar da vontade da equipe econômica, Bolsonaro não aceita. Em janeiro deste ano afirmou, em entrevista à revista Veja:
— Nós da equipe econômica somos a favor, mas isso é decisão política. O presidente já falou que não pretende levar o assunto adiante.
A percepção de que o Banco do Brasil "não é tatu nem cobra" se aprofundou no debate sobre a dificuldade de acesso ao crédito no período da pandemia. Em conversa com a coluna, Ricardo Roriz, presidente da presidente da Associação Brasileira da Indústria Plástica (Abiplast), um dos que acompanhou o presidente Jair Bolsonaro na emblemática marcha ao Supremo Tribunal Federal (STF), fez discurso no mesmo tom:
— De que adianta ter banco público se não estão fazendo nada agora? Se for assim, é melhor mesmo privatizar tudo e fazer estradas e hospitais, porque não estão cumprindo seu papel. O BNDES passou pela Lava-Jato e hoje lá ninguém assina nada.
A queixa, assim como a fala de Guedes, está relacionada ao fato de o Banco do Brasil manter controle público depois de ter vendido uma grande fatia no mercado. Agora, tem vários acionasitas minoritários que cobram resultados. Foi ao que o ministro se referiu ao dizer "se for apertar o Rubem (presidente do BB), coitado. Ele é superliberal, mas se apertar ele e falar: ‘bota o juro baixo’, ele: ‘não posso, senão a turma, os privados, meus minoritários, me apertam’ . Aí se falar assim: ‘bota o juro alto’, ele: ‘não posso, porque senão o governo me aperta’.
O mercado pode ter subido no vácuo com a expectativa de privatização do BB, mas a crise de crédito terá peso da decisão sobre o futuro do BB. No mínimo, para aumentar a pressão da equipe econômica sobre Bolsonaro, como Guedes fez na reunião do dia 22 de abril. Na manhã desta terça-feira (26), as ações do BB abriram em leve baixa.
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