Se na manhã desta sexta-feira (24), a preocupação no mercado financeiro era a sustentação do governo Bolsonaro sem um de seus principais pilares, o agora ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, no final do dia o temor passou a ser com os rumos do Brasil depois das pesadas revelações feitas durante o pronunciamento do ex-ministro. No horizonte do mercado financeiro, também se mantém a inquietação com o desgaste imposto ao ministro da Economia, Paulo Guedes.
A bolsa de valores encerrou com queda de 5,45% em um dia no qual a principal referência, a de Nova York, fechou em alta de 1,11%. Portanto, fica claro que o mercado operou com radar voltado para a crise institucional, embora o ambiente externo não tenha sido desprezado. Moro fez sérias acusações de tentativa de interferência do presidente em investigações da Polícia Federal.
– Independentemente se Moro está certo ou não, a atitude do governo foi muito ruim. Em 10 dias, dois ministros importantes foram desligados. Entre os investidores, ficou a sensação de que há ingerência política. É por isso que a bolsa despencou e o dólar disparou. E há preocupações de que possa haver a saída de Guedes, o principal pila do controle fiscal – observa o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.
Conforme Agostini, a preocupação do mercado é haver uma mudança na "gestão do governo", porque há uma aproximação com o Centrão, mudança na Polícia Federal. O analista também aponta uma mudança de protagonismo na economia: o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tem falado todos os dias em lives variadas, enquanto Guedes se recolhe ao silêncio.
– Moro não é o único pilar do governo, mas o deixa mais vulnerável – avalia Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV (antes Banco Votorantim).
A "resposta" de Bolsonaro veio quando o mercado já havia fechado, mas terá impacto no mercado na próxima segunda-feira, projeta André Perfeito, economista-chefe da Necton:
– O mercado vai manter o tom pessimista e, muito provavelmente, segunda-feira será um dia de mais realizações na chave da fuga para a liquidez. O dólar deve se manter em alta deve testar os R$ 6 ao longo da semana.