A empresa já havia comunicado a decisão em nota, mas coube a um executivo com longa passagem pelo Rio Grande do Sul a confirmação de que a Embraer vai recorrer da decisão da Boeing de cancelar a fusão entre as empresas anunciada no final da semana. Francisco Gomes Neto, que dirigiu a Marcopolo pelo perigoso caminho da crise de 2008, agora pilota a fabricante de aeronaves.
O pouso forçado da parceria será discutido em algum tipo de tribunal, oficial ou arbitral, reforçou Gomes Neto durante teleconferência nesta segunda-feira (27).
O objetivo da empresa brasileira não é retomar o negócio, o que é inviável, mas buscar ressarcimento ao menos para gastos estimados em R$ 485 milhões com a separação da área de aviação comercial, foco do acordo, das demais áreas, especialmente a que produz aeronaves para a Aeronáutica.
Em meio a preocupações com a capacidade da empresa de se manter em voo solo, a Embraer foi indagada por analistas de mercado sobre o que realmente interessa: quais prospecções está fazendo para buscar novo parceiro. A possibilidade já foi admitida pelo presidente Jair Bolsonaro, que nesta segunda-feira afirmou que, "se o negócio realmente for desfeito, talvez recomece uma nova negociação com outra empresa”.
Gomes Neto não quis antecipar novos esboços de acordo, mas no mercado já se cogita sobre a provável aproximação de fabricantes chineses. Há certo consenso de que a empresa enfrentará dificuldades de médio prazo caso não parta para uma nova negociação. Se antes da crise o diagnóstico já era de que a Embraer não conseguiria sobreviver isolada à concentração de mercado, mais ainda agora, com o mercado aéreo praticamente parado.
Mais da metade das receitas da fabricante vem da aviação comercial, como mostra o gráfico, e as encomendas já vinham caindo. Segundo Gomes Neto, até agora, neste ano, houve apenas um cancelamento. Mas a probabilidade de que esse movimento se acentue é elevada e, para sobreviver a essa perda de altitude, a Embraer deverá prospectar novos interessados em unir as asas.