O fato de o ministro da Economia, Paulo Guedes, não ter comparecido ao anúncio da nova ajuda do governo federal a pequenas e médias empresas, na manhã de sexta-feira (27), reforçou as indagações sobre seu papel na administração da crise. No mesmo dia, à tarde, sua assessoria preparou e divulgou um vídeo em que o ministro reaparece com um discurso totalmente diferente do que mantinha até agora. Para começar, sequer pronuncia a palavra "reformas" em seis minutos. Depois, como nunca se ouviu com tanta ênfase, destaca a ajuda aos "mais desprotegidos" e para "a gente valente que nunca pediu nada ao governo". Em alguma galáxia distante, haverá quem diga que Guedes "virou comunista".
Uma das frases mais importantes é a que acompanha o vídeo do ministro postado em rede social: "A determinação do presidente @jairbolsonaro é que não faltem recursos para defender vidas, saúde e empregos dos brasileiros". Frisou, ainda, que "ninguém vai ficar para trás". Guedes também considera o risco de "uma crise econômica como nunca sofremos antes".
Da China aos Estados Unidos, só para citar dois antípodas políticos e estratégicos, que esstavam engalfinhados em uma guerra comercial enquanto surgia a variação SARS-CoV-2 do coronavírus, o nome da política econômica adotada é "whatever it takes", ou seja, "o que for preciso". Ao dizer "que não faltem recursos", Guedes se aproxima do alinhamento global. Só falta o que os outros já mostraram: ajuda volumosa e em velocidade. No final do vídeo, o ministro ainda faz sua interpretação pessoal do discurso presidencial que atemorizou o Brasil:
– O presidente está nos alertando que precisamos impedir a desorganização da economia brasileira, uma crise de abastecimento no Brasil (...) Se nós tomos que precisamos ficar em isolamento para furar essa primeira onda (...) Se não percebermos que atividades fundamentais (destaque da coluna), como a própria saúde (...), os produtores rurais (...), os caminhoneiros (...), se não lembramos que temos de continuar resistindo...
Ou seja, o que o ministro defende, para que as prateleiras não fiquem vazias, é a manutenção das atividades essenciais, sobre as quais não há polêmica. Sobre a volta à produção normal, ali perdido no novo discurso de Guedes, há um recado importante: "ali à frente". Não agora, portanto.