Reflexo da nova onda de turbulência nos mercados internacionais, o dólar comercial fechou em R$ 4,651 nesta quinta-feira (5), alimentando a pergunta sobre quando atingirá R$ 5. A questão foi feita ao ministro da Economia, Paulo Guedes, que respondeu:
– É um câmbio que flutua. Se eu fizer muita besteira, ele pode ir para esse nível (R$ 5). Se eu fizer muita coisa certa, pode descer – disse em evento da Fiesp, em São Paulo.
Ao dizer essa frase, Guedes enfim chama a si a responsabilidade de frear a disparada do dólar. Até há pouco tempo, o ministro afirmava que o Brasil teria de conviver "por um bom tempo" com juro baixo e dólar alto". Agora, mudou de discurso. Disse que, com o avanço das reformas, mais rápido são retomados os investimentos – a queda em novos projetos foi uma das principais causas das reduções nas projeções de crescimento para este ano – e "o dólar acalma."
Guedes ainda tentou transferir a responsabilidade pela alta no câmbio à imprensa. Segundo o ministro, "tem o coronavírus, a desaceleração da economia mundial, tem a incerteza". E acrescentou:
– O que vocês estavam dizendo há um, dois dias atrás? Está havendo choque entre Congresso e o presidente, não está havendo coordenação política. Se está havendo esse frisson todo, o dólar sobe um pouco – afirmou o ministro.
O movimento se acentuou depois do inesperado corte de 0,5 ponto percentual no juro de referência nos Estados Unidos. A medida provocou leituras de que a crise global pode ser mais profunda do que se supunha, alimentou expectativa de corte na taxa básica no Brasil, já na reunião dos dias 17 e 18 deste mês, e acentuou a especulação no câmbio.
Conforme dados confirmados pelo economista-chefe da corretora Necton, André Perfeito, o real é de fato a moeda que mais se desvalorizou ante o dólar neste ano. Perdeu 13,21% até agora, enquanto a segunda, o rand da África do Sul, caiu 9,82%, e o dólar da Nova Zelândia, terceiro no ranking, depreciou-se 6,47%. Uma das explicações é porque o Brasil é um mercado mais líquido, o que significa que é mais fácil fazer operações cambiais. Outra está relacionada ao desempenho da economia interna, que em poucos meses passou de projeção de alta de 2,5% em 2020 para até 1,5%.