A greve dos petroleiros chega ao 18º dia nesta terça-feira (18). A paralisação já é considerada a maior desde 1995, em número de turnos afetados. Enquanto a Petrobras garante que o movimento não provoca impacto na produção de petróleo e de combustíveis do país, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) alerta para possíveis riscos de desabastecimento no futuro, caso não haja retomada da normalidade.
Em nota enviada à coluna, a Petrobras manteve o posicionamento das últimas semanas e afirmou que em nenhuma plataforma de produção, refinaria ou unidade de processamento de gás natural houve adesão total à paralisação. A estatal afirma que "as entidades sindicais estão descumprindo a decisão judicial de manutenção de 90% do efetivo necessário para manter a operação em condições de normalidade". Mesmo assim, assegura que a produção está sendo mantida por meio de equipes de contingência e de empregados que não aderiram ao movimento.
À coluna, o diretor-geral da ANP, Décio Oddone, afirmou que não se trata de uma situação normal o fato de a estatal estar operando com equipes extras:
— Assim sendo, embora não tenha acontecido até agora, nem haja qualquer indício de que acontecerá, pode vir a haver impacto na produção de derivados. Por isso, é importante que a situação volte ao normal o mais rápido possível.
A Federação Única dos Petroleiros (FUP) afirma que cerca de 21 mil funcionários aderiram à greve, em 121 unidades distribuídas por 13 Estados. Os dados não são confirmados pela Petrobras. Segundo Luiz Fernando Maia da Costa, presidente do Sindipetro-RS, que representa os petroleiros no Estado, o objetivo dos grevistas não é prejudicar o abastecimento, e tenta atribuir a responsabilidade a qualquer problema à estatal:
— Se ocorrer desabastecimento, será culpa única e exclusiva da gestão (do presidente) Castello Branco, por sua intransigência e desrespeito à categoria petroleira.
Segundo Maia, não é possível garantir que não vai haver problemas. Na segunda-feira (17), o ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST) Ives Gandra atendeu ao pedido da Petrobras e considerou a greve abusiva e ilegal. Com a medida, a estatal está autorizada a tomar "medidas administrativas cabíveis", como corte de salários, sanções disciplinares e demissão por justa causa. A decisão se baseia exatamente nos riscos de desabastecimento de combustíveis e gás de cozinha. O sindicalista pondera que a Petrobras afirma à imprensa que não há ameaça para o fornecimento, mas questiona porque usou essa hipótese na ação no TST.
A principal motivação dos grevistas é o anúncio da hibernação da Araucária Nitrogenados (Ansa), antiga Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen), no Paraná. A Ansa foi comprada pela Petrobras em 2013. Conforme a estatal, apresentou prejuízos recorrentes, totalizando cerca de R$ 2 bilhões. Para o final de 2020, as previsões indicavam que o resultado negativo poderia superar R$ 400 milhões apenas este ano. Com a hibernação, cerca de 400 funcionários foram demitidos, e o número total de cortes pode chegar a mil.
*Colaborou Camila Silva