O jornalista Leonardo Vieceli colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
A primeira reunião no ano do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) provoca grande expectativa entre analistas. Marcado para terça (4) e quarta-feira (5), o encontro pode confirmar novo corte no juro básico do país. Parte das apostas indica redução de 0,25 ponto percentual na Selic. Assim, a taxa cairia de 4,5% para 4,25% ao ano, renovando o menor nível histórico.
Caso o Copom decida dar continuidade ao ciclo de cortes, deixará em segundo plano as tensões externas que sacodem o início de 2020. A mais recente é o surto de coronavírus na China, que ameaça o desempenho da economia global e faz o dólar ganhar fôlego ante o real. Quando a moeda americana dispara, traz riscos de alta na inflação no Brasil.
Em razão de temores como esse, o economista João Augusto Salles vai na contramão de boa parte dos analistas e considera mais prudente manter a Selic inalterada neste momento:
– Se fizesse parte do Copom, meu voto seria por não mexer. Existe pressão cambial no país, e o cenário global está mais difícil. O que pode forçar novo corte é o fato de o juro estar quase negativo em alguns países desenvolvidos.
A Selic em nível baixo pode servir de estímulo à economia, que ainda sofre com a capacidade ociosa de setores como a indústria. Seja qual for o resultado da reunião do Copom, o desafio de fazer o juro baixo chegar ao consumidor com mais força seguirá no horizonte do Banco Central. Linhas como a do rotativo do cartão de crédito, que subiu em 2019 para 318,9%, ainda assustam.