O que começou com uma especulação sem grandes consequências começa a ganhar corpo e atiçar expectativas no Brasil, em pleno feriadão de Carnaval. Na última quinta-feira (20), o presidente Jair Bolsonaro tuitou que iria aos Estados Unidos em março. Um dos objetivos da visita, segundo esse tuíte, seria "a possibilidade da Tesla no Brasil" (veja abaixo).
Para quem passou os últimos anos sem atualizar seus conceitos na indústria automobilística, a Tesla de 2020 é como a Ford nos anos 1930. Na quarta-feira passada (22), foi a primeira montadora de automóveis a ter valor de mercado superior a US$ 100 bilhões, mais do que General Motors e Ford somadas. Seus carros elétricos com visual de esportivos mudaram o conceito de mobilidade sustentável, e seu fundador, o excêntrico Elon Musk, ainda manda satélites para o espaço – foram responsáveis pelos efeitos visuais vistos no Estado há poucos dias – e tem planos de chegar a Marte com sua empresa de foguetes, a SpaceX.
No Brasil, não há sequer venda oficial do desejados carros da Tesla. Nos Estados Unidos e na Europa, tornaram-se alcançáveis objetos de desejo graças aos subsídios que os governos locais dão na compra de automóveis elétricos. A conexão entre a montadora criada na Califórnia e o Brasil se deu por um executivo da montadora, Anderson Pacheco, ex-aluno do curso técnico de eletrotécnica da Sociedade de Assistência aos Trabalhadores do Carvão, de Criciúma (SC).
Foi o nome de Pacheco, hoje engenheiro sênior na unidade de tração da Tesla, em Sparks (Nevada, EUA), que apareceu na agenda do ministro Marcos Pontes, de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, no dia 12 de fevereiro. A partir daí, as especulações se intensificaram. O deputado federal Daniel Freitas (PSL-SC), autor de um projeto de lei que prevê isenções e incentivos para veículos elétricos, tem afirmado que há "tratativas", sobre as quais não quer dar muitos detalhes para não atrapalhar as negociações, já que o Chile disputaria com o Brasil a instalação da Tesla na América do Sul.
Como tudo o que envolve a Tesla e Musk é imprevisível, fica difícil saber quais as reais possibilidades de o Brasil receber uma unidade da montadora de veículos elétricos. Para Raphael Galante, economista especializado no setor automotivo, chance até existe, mas a estrutura de abastecimento para carros elétricos no Brasil ainda não dá viabilidade para uma montadora que produz apenas veículos carregados na tomada. Sobre a excentricidade de Musk, que desafia os padrões habituais de avaliação de viabilidade, Galante pondera:
– Ele pode aparentar ser um fanfarrão, mas não iria queimar dinheiro dos acionistas num projeto sem a mínima viabilidade econômica.
Não custa lembrar que o "projeto" que transferiu Musk do grupo dos visionários para o dos excêntricos foi um... lança-chamas. Ou seja, nem a hipótese de ele estar disposto a queimar dinheiro pode ser descartada.