Enfim, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cumpriu o que havia prometido ao colega brasileiro, Jair Bolsonaro – e bem no dia em que há grande expectativa para outro anúncio, o da primeira fase do acordo comercial com a China. Embora discutível do ponto de vista da diplomacia em geral, a decisão de preterir a Argentina nas indicações para adesão à Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) beneficia o Brasil e repõe justiça. Afinal, o país já avançou mais na longa agenda que precisa cumprir para se tornar uma espécie de sócio remido do clube dos países ricos.
A mudança também embute a confirmação de que, se quisesse, poderia ter feito esse gesto antes. Quando Trump preteriu o Brasil, em outubro passado, não faltaram interpretações de que seria obrigado a seguir determinada ordem de indicações. A reviravolta indica que só precisava, mesmo, de alguma boa vontade em relação ao Brasil que não tinha à época. Também sugere, é verdade, que pode ter feito a escolha que julgava ajudar Maurício Macri na disputa pela reeleição, mas já era muito tarde.
Com a indicação, Trump remove um obstáculo. A indicação americana era a última bênção que faltava, dos sócios sêniores da OCDE, para a entrada de um integrante júnior em termos econômicos. Mas o Brasil precisa fazer sua lição de casa. Nesta quarta-feira (15), Bolsonaro mencionou que ainda é preciso cumprir cerca de uma centena de requisitos. Em outubro passado, para sustentar a tese de que o país estava à frente da Argentina no processo, o governo informou que ainda faltava preencher 171 dos 253 requisitos exigidos.
Faça-se justiça, a parte do governo que melhor funciona – áreas dentro dos ministérios da Economia e da Infraestrutura – está trabalhando para vencer essa pesada agenda. Às vezes, com ajuda do comando do Planalto. Um dos exemplos é a proposta de reforma administrativa, que foi preparada com base em referências da OCDE, como contou a coluna o secretário de Gestão e Desempenho Pessoal, Wagner Lenhart.
É bom lembrar que, assim como os Estados Unidos, os grandes países europeus têm poder na OCDE. Além das cláusulas econômicas, o Brasil terá de cumprir exigências relativas a democracia, direitos humanos e cuidado ambiental para se legitimar no clube dos países desenvolvidos. Pode ser uma excelente oportunidade para acertar o passo.