Como havia antecipado o IPCA-15 de 2019, indicador conhecido como prévia da inflação, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado o termômetro oficial do Brasil, ficou muito acima do que se previa no início do ano. O IPCA tem esse status por ser a referência para o sistema de metas do Banco Central (BC). E seu resultado em 2019, de 4,31%, ficou ligeiramente acima do centro da meta (4,25%). É com base nessa baliza que o BC toma sua decisões sobre a taxa básica de juro. Embora a dedução lógica é de que novos cortes são improváveis, analistas de bancos ainda consideram possíveis até mais duas tesouradas de 0,25 ponto percentual, caso de Maurício Oreng, do Santander.
Uma das apostas é de que a disparada no preço da carne será contida em 2020. O produto, que subiu 32,4% em 2019 – movimento concentrado nos dois últimos meses – não vai repetir a dose neste ano.
No entanto, há dois vilões substitutos prontos para entrar em campo: o milho e os combustíveis. A estiagem que afeta o Rio Grande do Sul e provoca perdas no milho entrou no radar das ameaças aos preços. A eventual escassez do grão pode pressionar não só os derivados diretos, mas preços de frangos, ovos e suínos, hoje alternativas para fugir do preço dos cortes bovinos. Caso a estiagem se prolongue, esse quadro pode se confirmar.
Outra interrogação no radar dos preços vem dos combustíveis. A "quase guerra" no Oriente Médio lembrou ao governo brasileiro que não há mecanismo disponível para atenuar uma eventual disparada nos preços do petróleo. Até agora, a resposta contida do Irã ao ataque dos Estados Unidos e a tréplica verbal moderada do presidente americano, Donald Trump, deram sinal de alívio, mas não se pode confiar na constância de ambos.
Um dos argumentos dos analistas que projetam inflação comportada em 2020 é de que houve um "choque de oferta" – a quantidade de carne disponível no Brasil diminuiu com o aumento das exportações à China – que não vai se repetir neste ano. Também ponderam que não há "pressão de demanda" – aumento generalizado no consumo. No entanto, esses mesmos analistas apostam na aceleração da atividade na economia brasileira baseada na alta das despesas das famílias. Então, das duas, uma: ou vamos voltar a crescer e alguma alta de preços vai ocorrer, ou não haverá pressão, mas seguiremos marcando passo.