Produtor rural na localidade de Linha São Paulo, no interior de Não-Me-Toque, norte do Estado, Luiz Carlos Rohr contabiliza 42 dias sem chuva substancial em sua lavoura de soja. Desde 26 de novembro, apenas finas garoas umedeceram sua propriedade de 31 hectares, comprometendo a floração das sementes e a colheita da safra prevista para o final de março.
— Estamos de cabelo em pé — resume o agricultor.
Rohr calcula perda de 30% na produção, o que representa prejuízo superior a R$ 50 mil. Com calor próximo dos 40ºC nas últimas semanas, a falta de chuva tem afetado o desenvolvimento de grãos e preocupado produtores no Estado, especialmente da Região Norte.
Apesar de variar entre fazendas e culturas, os danos já são considerados significativos no milho e na soja e deixam pecuaristas em alerta por causa das pastagens secas. Para o presidente da Associação dos Produtores de Soja do Estado, Luis Fernando Fucks, a colheita recorde superior a 19 milhões de toneladas não irá se confirmar por causa da aridez do solo.
— Não será uma supersafra — reforça Fucks.
A Secretaria Estadual da Agricultura se reuniu na tarde de ontem com a área técnica da Emater. Titular da pasta, Covatti Filho, que está estudando em Nova York, participou do encontro por telefone. O secretário em exercício, Luiz Fernando Rodriguez Júnior, classificou a estiagem como a mais grave desde a safra 2011-2012 e anunciou a formação de um grupo para acompanhar seus desdobramentos. Dados consolidados devem ser apresentados até o fim da semana.
— A cada 10 anos, em sete deles tivemos algum comprometimento do potencial produtivo das lavouras e pastagens em razão de restrição hídrica. Pelo que as entidades passaram, os danos não eram tão severos desde 2011-2012 — diz Rodriguez.
Nas lavouras de milho, a colheita foi adiantada em algumas propriedades para evitar perdas mais significativas. Segundo agricultores, o florescimento está se dando com pouca umidade do ar e muita incidência do sol, “queimando” as plantas. Pouco otimistas, eles têm calculado quebra de metade da safra.
– Estou sentindo os efeitos do clima nas duas culturas, de milho e soja. A planta está em estresse hídrico e térmico. Se continuar assim, o impacto será em todas as culturas. Se chover, irá recuperar um pouco – comenta o produtor Maurício de Bortoli, de Cruz Alta.
Semeado entre agosto e setembro, o milho está no período de enchimento dos grãos, etapa do cultivo que demanda mais água. Já a soja, considerada uma planta resistente, está em fase reprodutiva e ainda poderá reagir, mas terá seu potencial reduzido. Porém, trata-se de um cenário disforme, de acordo com o diretor-técnico da Emater, Alencar Rugeri, já que, na mesma área, há produtores com perdas significativas e outros sem danos.
— É uma situação diferente de outras porque, dentro das regiões, há variação muito grande em razão da desuniformidade da distribuição da chuva em dezembro. Há produtores que perderam 100% da lavoura, e outros que já colheram e estão plantando de novo. A única solução é o restabelecimento da chuva, interrompendo esse ciclo — diz Rugeri.
Nas lavouras de milho, o tamanho do dano está relacionado ao mês de plantio. Agricultores que semearam em agosto foram pouco afetados, enquanto os que plantaram em setembro estão colhendo perdas, relata o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Venâncio Aires, Claudio Fingler:
— O milho seca de cima para baixo, e o excesso de calor começou a queimar as lavouras.
Produtores também estimam impacto no fumo e no leite. Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Não-Me-Toque, Maiquel Junges projeta o tamanho da crise no setor: perda de 80% no milho, 50% na soja e 20% no leite.