Embora considere "inócua" para o segmento a ameaça do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de sobretaxar produtos exportados por Brasil e Argentina, a Associação Brasileira do Alumínio (Abal) espera que o tuíte que deflagrou o temor não passe de uma manobra eleitoreira. Milton Rêgo, presidente da entidade, explica que, desde 2017, o alumínio exportado pelo Brasil aos EUA já enfrenta sobretaxa de 10% sobre a alíquotas originais de importação de 2% a 7%, dependendo do produto específico.
Rêgo lembra que, naquele momento, os EUA iniciaram a adoção de uma série de médias de defesa comercial, e o alumínio puxou a fila, já que a China era a principal origem de importações americanas. Na época, as sobretaxas impostas chegaram a 300%, o que inviabilizou totalmente a exportação de semimanufaturados pela China. O Brasil aumentou suas vendas para os EUA na época. Por isso, no ano passado, quando a siderurgia preferiu adotar cotas para fugir da sobretaxa, o segmento de alumínio fez o contrário: preferiu manter a cobrança extra, além da alíquota normal de importação:
– No caso do alumínio, como havia grande diferença de preço em relação à China, todos os países preferiram a sobretaxa, menos a Argentina. Como exportavam pouco, o limite de volume não afetava tanto os argentinos – destaca Rêgo, lembrando que o resultado nos EUA foi o aumento do preço do alumínio para os clientes americanos.
Por isso, agora avalia que o tuíte da segunda-feira foi simplesmente um "equívoco" do presidente dos EUA, e que a ameaça não será concretizada, até porque ainda não há qualquer sinal de efetivação da cobrança. Segundo o executivo, a elevação de sobretaxas depende de aprovação no Congresso, onde neste momento Trump enfrenta um processo que pode terminar em análise de impeachment.
– O problema é que esse é o novo normal. Desde que Trump decidiu abandonar o multilateralismo, há sobressaltos constantes e uma grande desorganização do comércio mundial – pondera Rêgo.
Na última década, lembra o presidente da Abal, a produção de alumínio caiu de ao redor de 1,8 milhão, em 2017, para cerca de 700 mil em 2018, resultado do custo alto da energia elétrica no Brasil. A eletricidade é um insumo fundamental no segmento. Como resultado, o Brasil é um importador líquido de produtos feitos com o material (importa muito mais do que exporta). Mesmo assim, assegura Rêgo, não há risco de aumento de preços dos produtos no Brasil, porque há ociosidade na produção nacional, especialmente na de itens dirigidos à construção civil.