Enquanto o Banco Central (BC) corta seu juro básico a sucessivas mínimas históricas, as taxas cobradas na vida real seguem desafiando o bom senso, com níveis quase cem vezes do que a Selic, caso do cheque especial e cartão de crédito. Entre as razões da disfuncionalidade, está a concentração do mercado bancário no Brasil, situação para a qual uma das soluções que costuma ser apontada é a do avanço das fintechs, empresas que usam tecnologia e flexibilidade para romper ineficiências na área do crédito. Uma das que vêm crescendo é a Captalys, comandada por uma americana, Margot Greenman, e um brasileiro – Luiz Claudio Garcia de Souza, ex-Pactual. Cresce exatamente à sombra das taxas estratosféricas no país. Tinha R$ 3 bilhões em ativos no ano passado e deve fechar este com R$ 11 bilhões. Margot, o rosto da empresa, explica como funciona a plataforma e como veio parar no Brasil, há 11 anos.
Qual é o negócio da Captalys?
É uma plataforma de crédito com modelo de negócio alternativo. Para ganhar dinheiro, o banco usa recursos dos poupadores para emprestar e cobra uma diferença, que é chamada de spread. Não estamos dizendo que esse modelo não é mais cabível, mas existe dinheiro fora dos bancos, como em fundos de pensão, responsáveis por investir para o futuro coletivo. Ligamos quem considera atraente investir em ativos diferentes a empresas que precisam dar crédito a seus clientes. Crédito não é um bem final, é um meio. Por isso, entendemos quem já tem o cliente para vender também pode oferecer crédito sem parar à espera do banco. É uma possibilidade de vender mais e acrescentar outra receita.
Na verdade, substitui o banco?
Nosso negócio é o empoderamento de empresas que tem clientes que precisam de crédito e estão com esses clientes no momento em que precisam. É mais eficiente do que esperar pelo banco. E esse dinheiro não precisa sair do caixa das empresas. A intenção é tentar ajudar o investidor a ter acesso, de forma segura e transparante, a quem precisa oferecer recursos aos clientes de forma adequada e sustentável, para vender mais.
As fintechs solucionam a concentração bancária no Brasil?
Acho difícil. Há três grupos de fintechs. O primeiro é das que têm modelos de negócio rentáveis no Brasil por distorção de mercado, como as “maquininhas” de cartão. O segundo é das que fazem o mesmo, só com tecnologia melhor, e o terceiro é das que têm modelo alternativo, como a Captalys.
Por que uma americana veio ao Brasil abrir uma fintech?
Foi tudo muito orgânico, não acordei um dia e decidi abrir um negócio no Brasil. Quando saí da faculdade, fui trabalhar em um banco de investimentos, o Credit Suisse. O primeiro projeto foi no Brasil, com grandes clientes. Acabei virando referência de profissional que conhecia o Brasil. Depois, vi que banco de investimento não combinava muito com meu espírito e fui para o Banco Mundial, que estava mais alinhado com a forma que queria atuar no mundo. Fiz mestrado e decidi: ‘chega de Brasil’. Mas logo depois, o projeto mais que mais me encantou era no Brasil. Nunca imaginei que, 11 anos depois, ainda estaria aqui. Temos tecnologia desenvolvida no Brasil por brasileiros.