Um dos aspectos mais preocupantes revelados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada nesta quarta-feira (16) pelo IBGE, é o fato de que a diferença entre a renda da parcela de 1% da população mais rica e a dos 50% mais pobres foi recorde no ano passado, considerando que o levantamento começou em 2012.
O rendimento médio mensal do 1% mais rico atingiu o equivalente a 33,8 vezes o ganho obtido pelos 50% mais pobres. No topo, o rendimento médio mensal é de R$ 27.744, na metade mais pobre, de R$ 820.
Segundo o IBGE, a desigualdade aumentou porque o rendimento real da metade mais pobre caiu ou subiu muito menos do que o dos mais ricos. Entre 2017 e 2018, por exemplo, o ganho dos 10% (a fração mais baixa da metade) mais pobres caiu 3,2% (para R$ 153 em média) enquanto o do 1% mais rico aumento 8,4% (para R$ 27.774). É um resultado compatível com os recentes anos de crise, que tendem a afetar mais as camadas de renda baixa. Mas acentua um problema que se tornou tão disfuncional no Brasil que conspira contra as tentativas de recuperação da economia.
No mundo, o combate a pobreza extrema está em alta, como demonstrou o Prêmio Nobel de Economia concedido neste ano. No Brasil, o tema tem como mais recente pesquisador o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga. Neste ano, o economista considerado pró-mercado e ortodoxo em teoria – portanto, defensor da não intervenção do Estado. No entanto, Armínio tem surpreendido ao defender que, no caso do Brasil, o problema é tão grave que precisa de algo mais mais do que as regras tradicionais da economia. Em artigo recente, o ex-presidente do BC afirmou:
– É verdade que a partir da Constituição de 1988 e seus direitos houve queda importante da desigualdade, que no entanto segue elevada. Isso se nota a olho nu e aparece com clareza nas comparações internacionais, nas quais o Brasil permanece perto da lanterna. Portanto, a criação de oportunidades para os menos favorecidos deveria ser prioridade na resposta de todo estadista a essa condição. Concretamente, trata-se aqui de reforçar as políticas públicas em áreas como educação, saúde, saneamento e transportes.
Em entrevista ainda mais recente, Armínio justificou a reviravolta de seu foco de atenção afirmando que teve acesso recente a dados que expõe o Brasil como espécie de campeão mundial da desigualdade. E montou um instituto de estudos para tratar do tema. É um exemplo de como o assunto tem de ser tratado: com profundidade e seriedade. E sem preconceito ideológico.
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