Entenda a reportagem em quatro pontos:
- Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, divulgada pelo IBGE, mostra que a renda mensal dos gaúchos está crescendo abaixo da média nacional;
- De 2012 a 2018, o rendimento médio real no Brasil passou de R$ 2.072 para R$ 2.166, enquanto no RS passou de R$ 2.393 para R$ 2.441;
- Apesar dos números, o Estado segue dono da quarta maior média de renda do país;
- Pnad também aponta que a concentração de renda no país atingiu seu maior nível desde o início do levantamento.
Leia a reportagem completa:
A renda mensal dos gaúchos está crescendo abaixo da média nacional. Essa é uma das constatações da nova edição da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira (16).
Entre 2012, quando começou a série histórica, e 2018, o rendimento médio real (considerando a inflação e todas as fontes de ingressos) no Brasil, passou de R$ 2.072 a R$ 2.166, alta de 4,5%. No mesmo período, o salário mediano no Rio Grande do Sul evoluiu de R$ 2.393 para R$ 2.441 — incremento de 2%.
Economista e professor da Escola de Negócios da Pucrs, Ely José de Mattos destaca que a evolução tanto no Brasil como no Rio Grande do Sul é modesta no período analisado pelo IBGE. Mattos lembra que a recessão enfrentada pelo país nos últimos anos acabou pesando para que os ingressos médios subissem pouco. No caso gaúcho, a redução do nível de emprego industrial no Estado, que costuma gerar rendimentos superiores aos do comércio e dos serviços, é um fator que pode ter influenciado para o desempenho ser inferior ao nacional.
- Estamos todos abraçados em um cenário ruim, tanto Brasil como o Rio Grande do Sul. A renda média mensal no país cresceu mais que o dobro do Estado, mas 4,5% é um ganho muito pequeno para seis anos – pondera.
Na comparação de 2018 com o ano anterior, o desempenho do Estado piora. Ao mesmo tempo em que o brasileiro adicionou, em média, R$ 59 na renda frente a 2017, o gaúcho perdeu R$ 5. Ou seja, no Brasil o rendimento médio da população cresceu 2,8%, enquanto no Rio Grande do Sul registrou retração de 0,2%. Apesar da queda, o Estado segue dono da quarta maior média de renda do país, ficando atrás de Distrito Federal (R$ 3.908), São Paulo (R$ 2.841) e Rio de Janeiro (2.627).
— No ano passado, as duas posições de ocupação que tiveram maior queda de rendimento foram o emprego público com carteira assinada e os empregadores com CNPJ. Isso pode ter contribuído para a queda na renda em 2018 — sinaliza Walter de Souza, coordenador da Pnad Contínua no Estado.
O Rio Grande do Sul tem leve melhora no resultado ao se analisar apenas a renda obtida com trabalho — indicador que descarta aposentadorias, pensões, aluguéis e outros tipos de ganhos. Ainda assim, fica atrás dos números gerais do Brasil.
Neste sentido, os gaúchos tiveram ganho real de 2,6% entre 2012 e 2018, com o salário mensal médio indo de R$ 2.381 para R$ 2.444. No país, em igual período, a variação foi de R$ 2.133 a R$ 2.234, crescimento de 4,7%.
Concentração de renda sobe no país e cai no Estado
A Pnad Contínua apontou que a concentração de renda no país atingiu seu maior nível desde o início do levantamento. No ano passado, as pessoas inseridas na faixa das 10% mais ricas da população brasileira embolsaram, em média, R$ 9.369 por mês, expansão de 4,1% frente a 2017. Já os indivíduos que figuram entre os 10% mais pobres ganharam, na média, R$ 254 mensais, queda de 1,9%. Desta maneira, a renda dos abastados foi 36,9 vezes superior à dos menos favorecidos. Em 2017, a proporção era de 34,7 vezes.
Com isso, o Índice Gini, que mede a concentração de renda, também apresentou seu pior resultado no Brasil desde 2012. O indicador vai de zero, que representa igualdade na distribuição, até um, que simboliza desigualdade máxima. Em 2018, atingiu a marca de 0,509 no país.
O aumento recorde da desigualdade no país passa pelas movimentações recentes do mercado de trabalho, segundo a pesquisadora do IBGE Adriana Beringuy.
- De 2012 a 2015 tivemos um mercado de trabalho que desconcentrou a renda e que, de 2016 em diante, passou a concentrar renda. A queda acentuada do emprego com carteira assinada no setor privado e o aumento da informalidade fizeram com que as pessoas de menor rendimento perdessem ainda mais - pontua Adriana.
Por outro lado, o Rio Grande do Sul teve leve redução na disparidade entre classes sociais. Em 2018, a cada 30 dias, a camada dos 10% mais ricos recebeu R$ 9.360, com variação positiva de 0,4% na comparação com a temporada anterior. Já o grupo dos 10% mais pobres obteve R$ 442, avanço de 6,3%. Sendo assim, a discrepância entre as duas faixas da população gaúcha foi de 21,2 vezes. No ano anterior, atingiu 22,4 vezes. No Estado, o Gini foi de 0,462.