Quando chegou ao Brasil, em 1966, a construtora Hochtief queria disputar obras públicas. Em um ano, percebeu que o mercado era diferente do que estava habituada na Alemanha. Desistiu de competir com as grandes empreiteiras nacionais e se focou no atendimento a empresas privadas. Depois de muitas mudanças de controle e uma associação à gaúcha Tedesco, a empresa se transformou na HTB, que toca as obras de ampliação do aeroporto Salgado Filho. Um novo estacionamento já foi entregue e a ampliação do terminal de passageiros será completada até novembro. Só vai faltar a ampliação da pista. Em visita a Porto Alegre, o diretor-presidente no país, Detlef Dralle, disse à coluna que nem a fragilização das empreiteiras nacionais, em decorrência da Operação Lava-Jato, abre o apetite da empresa para obras públicas. Depois de parar e pensar, acrescentou:
– Nem adiantaria, porque praticamente não há obras públicas no Brasil.
Está garantida a inauguração do terminal de passageiros do aeroporto Salgado Filho para novembro?
Absolutamente garantida, no que cabe a nós não tem nenhum risco. Não está com folga, o prazo sempre foi muito apertado, ainda é um grande desafio, mas sabendo do desafio mobilizamos toda nossa capacidade. Estamos bem seguros, mas também foi um prazo que a construtora não conseguiria cumprir sozinha. A equipe da Fraport, a própria sociedade, foram todos bastante colaborativos, até pela significância do aeroporto, todo mundo deu um gás para conseguirmos isso juntos.
Qual é o segredo de entregar obras no prazo no Brasil ?
O fundamental é fazer um bom planejamento, ter projeto muito bem desenvolvido para definir o que tem que ser feito, em que prazo, definir os recursos necessários e alocar os recursos para fazer. É preciso ter pessoas com competência e disponibilidade, da quantidade adequada antes do início da obra e, depois, simplesmente implementar o programa planejado. Claro, sempre ocorrem imprevistos, todo bom engenheiro de obras tem planos B,C,D e F.
Se houver impasse da retirada das famílias das vilas Dique e Nazaré, pode haver atraso na ampliação da pista?
(Pede ajuda a Pedro Silber Tedesco, sócio local, para responder)
Estamos fazendo todas as obras que são possíveis, especialmente de drenagem. Mas claro que, se a remoção das famílias atrasar muito, em algum momento isso pode impactar lá na frente. Existem obras a serem feitas nos locais hoje ocupados. Há possibilidade de absorver algum atraso sem demora no cronograma, mas tem um limite. Se atrasar seis meses, não tem mágica. (Dralle retoma a resposta). Em condições normais de temperatura e pressão, não há risco de atraso. O prazo da primeira fase foi extremamente mais apertado que a que está por vir. Então, tem elasticidade dentro desse prazo. Se algo atrasar, tem como reagir, mas, evidentemente, como o Pedro falou, existe um limite no qual milagre não se faz.
Com a fragilização das empreiteiras brasileiras, a HTB tem interesse em disputar obras públicas?
Não interessa para nós. O mercado de obras públicas já não nos interessava e, do jeito que se contratam obras públicas hoje, continua sendo a mesma coisa. Não mudou nada, para nós, o cenário em termos de produtividade de obras públicas. Nossa vocação é fazer obras para clientes privados e, dentro desse segmento, tem bastante oportunidades. O que a gente vê hoje, é que o poder público vem privatizando suas obras que eram públicas e, com isso, o mercado privado está expandindo. Do nosso ponto de vista, há potencial gigantesco. Na medida do possível, vamos tentar ocupar também.
A HTB disputaria concessões?
Não, nosso objetivo é prestar serviços de engenharia, planejamento e execução de obras, nossa estratégia não é de investimento em concessão.
Como a empresa passou por esses anos de crise?
Desde 2013, o PIB da construção encolhe. No acumulado, tem cerca de 30% de queda. Para nós, foi ao contrário, crescemos. Não todos os anos, mas hoje o saldo de contratos deve ser o maior da história que temos no Brasil. Tem outros negócios bastante interessantes, fazemos gerenciamento de obras, relativamente pequenas, mas em grande quantidade. São redes varejistas, como drogarias e supermercados, redes de gás doméstico, levando a expansão da rede de gás para as residências. O mercado está difícil, porque encolheu, mas também tem menores competidores qualificados, a crise acabou arrastando muitas empresas para uma situação financeira muito delicada. Então, tem poucas empresas que estão sobrevivendo essa crise drástica mantendo sua musculatura, e nós conseguimos criar musculatura. Nesse período, crescemos entre 20% e 25%, quase a mesma magnitude da queda do segmento.