Ao revelar os dados sobre os quais anteriormente havia decretado um contraproducente sigilo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, apresentou um kinder ovo aos brasileiros: em vez dos R$ 1,16 trilhão anunciados oficialmente, a economia com a reforma da Previdência em um prazo de 10 anos alcançará R$ 1,236 trilhão caso não seja alterada no Congresso.
A surpresa teve imediata repercussão no mercado financeiro e ajudou a trazer o dólar, que chegou a trafegar acima de R$ 4 no início da manhã, de volta para R$ 3,956. Associada à formação da Comissão Especial da Câmara dos Deputados , que será o coliseu dos defensores e dos opositores da proposta, também animou a bolsa, que subiu 1,59%.
Guedes e seus secretários serão cobrados sobre a origem dos R$ 100 bilhões extras: foi distração – hipótese difícil de sustentar em uma equipe formada por muitos técnicos – ou tentativa de fazer com que a esperada desidratação da proposta fizesse menos estrago na redução de gastos prevista com a Nova Previdência? Caso o segundo caso se confirme, renderá debates ainda mais acalorados na Câmara dos Deputados.
Até porque, no mesmo dia, foi avaliada a desidratação que representariam os dois pontos que o presidente da Câmara,Rodrigo Maia (DEM-RJ) já avisou que não vão passar. Sem as mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BPC) e na aposentadoria rural, o governo deixaria de economizar cerca de R$ 127 bilhões – valor semelhante ao que foi adicionado ao total ontem. Pode ser coincidência, mas é bilionária.
Maia também avisou que capitalização pura, como já tentou defender Paulo Guedes, não tem chance de aprovação no Congresso. O presidente da Câmara abriu a possibilidade de um sistema híbrido – semelhante ao nocional que já foi cogitado pelo ministro da Economia –, ou um formato que deixe no regime atual os “mais pobres”.
Esse é semelhante ao proposto, durante a campanha eleitoral, pelo conselheiro econômico de Ciro Gomes (PDT), Mauro Benevides, que previa redução do teto de pagamento do INSS. Quem quisesse receber mais, teria de migrar para algum tipo de capitalização. Deputado federal pelo Ceará, Benevides chegou a ser cotado para ser relator da reforma da Previdência na Câmara.