A primeira reunião formal com um chefe de Estado estrangeiro do presidente Jair Bolsonaro foi com Mauricio Macri, da Argentina. É bom lembrar que a eleição de Macri representou a primeira mudança na suposta dominação do bolivarianismo na América Latina. Não por acaso, boa parte das declarações foi de crítica a Venezuela de Maduro. Enfrentou uma
crise cambial apocalíptica em 2018, com 50% de desvalorização do peso no país em que
a dolarização ainda é um hábito do dia a dia. Nas eleições presidenciais marcadas para outubro deste ano, está com baixa probabilidade de manter o cargo. Não quer arriscar
um ativo como a boa relação com o Brasil.
Havia dúvidas, depois que o ministro da Economia,
Paulo Guedes, deu uma resposta nada diplomática –
"o Mercosul não é prioridade" – a jornalistas argentinos, no dia da vitória de Bolsonaro. No discurso de ontem,
os presidentes se comprometeram com a manutenção
de um bloco mais "enxuto" e "moderno", sem detalhar
o que isso significa.
Se depender de quem sustenta a existência do bloco, com negócios e viagens, será com mais prática e menos discurso. Se houve excesso de parolagem na relação de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, foi provocado pela mudança de foco do Mercosul para a Unasul, esse sim um fórum de muito discurso e pouca prática. Graças ao bloco, as montadoras brasileiras conseguiram desovar estoques durante a recessão, fabricantes de calçados e de alimentos venderam a argentinos, uruguaios e paraguaios o que os brasileiros deixaram de comprar. As quatro economias são interdependentes e cíclicas. A crise cambial argentina anda travando produtos gaúchos.
Mesmo assim, a resposta não é desdém nem desconhecimento. A Argentina foi o terceiro maior destino das exportações do Estado em 2018 (US$ 1,4 bilhões). O total de importações
e exportações só perde para a China. Por isso, nos próximos dias, será constituída a Câmara Empresarial Argentino-Brasileira do Estado (Ceab-RS), com apoio do Consulado-Geral da Argentina em Porto Alegre, da Fiergs, da Fecomércio-RS e da Farsul. Uma de suas missões será dar voz às empresas dos dois países para superar travas. É um sinal de que a solução
não é abandonar um projeto de integração, mas aperfeiçoá-lo.