O presidente Jair Bolsonaro almoçou em um bandejão de um supermercado em Davos e, após a refeição, serviu um discurso feijão com arroz no Fórum Econômico Mundial. Pouco para o paladar refinado e o apetite da distinta audição formada por grandes investidores. Além de genérico, Bolsonaro foi econômico— não tanto nos temas que abordou, mas na duração do pronunciamento. Tinha direito a 45 minutos que poderiam empolgar a elite do capital global, mas usou magros seis.
Bolsonaro tocou no principal, mas foi superficial. Disse que vai trabalhar para reequilibrar as contas públicas. Sustentou que o governo tem credibilidade para "fazer as reformas que precisamos e que o mundo espera de nós".
O presidente também afirmou que vai diminuir carga tributária e simplificar normas, para ajudar quem quer empreender, produzir e gerar empregos. Comprometeu-se a privatizar. Era o que a plateia esperava ouvir. Mas não deu detalhe de como pretende fazer a reforma da Previdência e sequer mencionou especificamente o tema que gera mais apreensão entre investidores. Raspando em outro assunto que desperta interesse internacional, prometeu conciliar desenvolvimento econômico e preservação do ambiente. E só. O que pareceu positivo foi tentar passar imagem de certa moderação e compromisso com a democracia.
Enquanto Bolsonaro começava a falar na sessão plenária do fórum, por volta das 12h30, o mercado acionário brasileiro, que abriu em queda, ensaiava reação. Sinal de que manteria o rali das últimas semanas. Ao fim do breve pronunciamento, porém,
o humor voltou a azedar. O dólar reacelerou e fechou o dia com alta de 1,25% a maior em quase dois meses, enquanto o índice Ibovespa encerrou a sessão com queda de 0,94%, a maior retração do ano, também influenciada pelo Exterior.
Relatos indicam que, depois, em reuniões fechadas, Bolsonaro foi um pouco mais incisivo e garantiu que a proposta para a Previdência será apresentada quando o novo Congresso se reunir. O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse o mesmo em outro encontro. A expectativa é de que hoje o superministro dê mais detalhes do menu da reforma da Previdência. Empolgado com o aperitivo das intenções do governo, o mercado espera para logo o prato principal. Se ficar de cara feia, é fome.