Foi expressiva a alta do PIB no terceiro trimestre. Não surpreendeu positivamente, ficou dentro da expectativa dos analistas, mas é bom lembrar que, com certa frequência, até expectativas moderadas não são alcançadas. O tom de cautela dos economistas ao analisar os resultados está relacionado à baixa base de comparação: é bom lembrar que o segundo trimestre ficou quase no zero a zero, com avanço microscópico de 0,2%, em boa parte por conta da greve dos caminhoneiros. Esse foi o tom de Lucas Nóbrega, economista do Santander:
– O frágil desempenho do PIB no segundo trimestre, explicado pela paralisação no setor de transportes em maio, deixou uma base de comparação muito deprimida. Devemos apreciar os bons números do PIB entre julho e setembro, mas com certa moderação.
É animadora a perspectiva de ter alcançado a segunda maior alta desde aquele promissor primeiro trimestre de 2017, quando o PIB cresceu 1,1% alimentado pela safra agrícola. Também é positivo o fato de que a maior contribuição para o crescimento tenha sido a do setor de serviços, que representa cerca de 60% do PIB. Isso significa que os resultados são mais disseminados, ao contrário do que ocorria quando o motor da alta era a agropecuária. Mesmo com safra farta, o Brasil não conseguiu manter a velocidade, devido a incertezas, solavancos e escândalos.
A melhor notícia do PIB do terceiro trimestre é a taxa de investimento, registrada no indicador chamado Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), importante sinalizador de crescimento futuro. Depois de mergulhar do pico de 21,5%, em proporção ao PIB em 2013 – lembrando que o valor global da riqueza gerada na época era muito maior –, foi a primeira vez em que inverteu a direção declinante na comparação com igual período do ano anterior. Nessa perspectiva, depois de tocar o fundo do poço em 15,5% do PIB, atingiu 16,9%.
Na comparação com o trimestre anterior, o aumento de 6,6% no FBCF, que representa compra de máquinas e equipamentos e investimento em construção civil, é o maior desde o quarto trimestre de 2009. É tão boa notícia que precisa ser bem interpretada. O próprio IBGE advertiu que há uma mudança no cálculo, que passou a incluir as compras da indústria de óleo e gás decorrente de modificações no regime Repetro (que isenta de imposto de importação insumos trazidos do Exterior para a exploração e produção de petróleo). Mesmo assim, tanto pelo tamanho da alta quanto pelo fato de que os investimentos na construção naval ainda não estarem em ritmo tão acelerado, é uma boa perspectiva de que, enfim, exista possibilidade de colher crescimento mais polpudo no futuro.